Palavras finais...
As viagens são o grande atrativo da profissão dos
Comissários e Comissárias de Voo. Acredito que seria muito reduzido o número de
jovens a se interessar por este trabalho se ele ficasse circunscrito ao
ambiente interno de um avião (ambiente fechado, pressurizado, com ar seco e
baixa temperatura) em voos que podem durar mais de 10 horas seguidas, com
dezenas e mesmo centenas de passageiros que esperam ser atendidos com
exclusividade! Também não seriam atraídos por esta profissão se ela se
restringisse a cuidar exclusivamente de situações de emergência... Quem
aguentaria ficar o tempo todo “focado” em combater incêndios a bordo ou fazer
pousos forçados no mar ou em terra?!
Além de gostar de viajar e lidar com o público, têm outras
razões que levam os jovens a escolher esta profissão: a sensação de fazer parte
de um mundo sem fronteiras; a sensação (nem sempre verdadeira) de ter maior
liberdade e mais tempo livre; a possibilidade de visitar familiares e amigos
que moram longe, ficar em bons hotéis... E o salário, é claro! Embora as
exigências das empresas sejam muitas (no sentido do “ser”), não é preciso ter
frequentado uma universidade ou concluído um curso de pós-graduação, que exige
anos de estudo e esforço, para ser admitido nesta profissão.
Passados os primeiros tempos, onde tudo é novidade, o
trabalho começa a mostrar o seu lado repetitivo e cansativo. Nos voos curtos,
com muitas escalas, ou nos voos internacionais, quase sempre lotados, os
comissários e comissárias, na realização de suas obrigações, se desdobram para
que os passageiros tenham uma viagem boa, segura e confortável. Mas, os pequenos
incidentes e imprevistos também acontecem.
Após longas jornadas de trabalho, que vão muito além das
horas voadas, se a escala de voo não permitir um tempo adequado para o descanso
e o convívio familiar, a vida particular vai ficando difícil e surgem desequilíbrios
físicos e emocionais. O organismo se ressente e as reações aparecem: insônia,
irritabilidade, ansiedade, facilidade para contrair gripes e resfriados, além
de outros problemas de saúde.
A necessidade de trabalhar, de se sentir útil e ganhar o
seu próprio sustento, em uma atividade charmosa que permite conhecer muitos
lugares, absorver novas culturas, fazer novos amigos, são razões que prendem as
pessoas nesta profissão, apesar do constante desgaste que ela produz.
Os aspectos
vantajosos da profissão todo mundo conhece. Mas os aspectos negativos são
desconhecidos do público e desconsiderados pelas empresas de transporte aéreo.
Eles existem e tem um peso muito grande na relação custo-benefício vivida por
esses profissionais. Com o passar dos anos, a situação tende a piorar, como já
foi visto no Resultado da Pesquisa (páginas 71 até 129).
Na admissão, a empresa exige juventude, saúde, boa
aparência, e inúmeras habilidades comportamentais, como: boa postura, boa
comunicação, boa educação, sociabilidade, amabilidade etc. Mas as condições de
trabalho (incluindo, principalmente, a sobrecarga da escala de voo) e a falta
de reconhecimento das chefias, vão minando o lado emocional que comanda o
potencial do funcionário. Nesses últimos anos, as condições de trabalho dos
Comissários de Voo ficaram ainda mais difíceis...
Não é minha intenção desmotivar as jovens que desejam
escolher esta profissão, por qualquer que seja o motivo. Muito ao contrário.
Para elas, cito uma frase do poeta Fernando Pessoa que ouvi aos onze anos e
nunca mais esqueci: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”! Sim, quando
trabalhamos com amor e dedicação, engrandecemos a nossa alma! Trabalhar e
servir as pessoas enobrece o ser humano. A profissão de Comissário e Comissária
de Voo é muito digna e bonita. Mas o trabalho pode se tornar muito desgastante
e frustrante, se as condições oferecidas pelas empresas forem abusivas e se a
lei que regulamenta a profissão estiver desconectada da realidade.
Espero que as informações registradas neste livro sirvam
para mostrar o lado real da atividade dos Comissários e Comissárias de Voo –
profissionais que a sociedade e a mídia continuam a focalizar de forma
superficial e estereotipada. Espero, também, que as jovens que sonham exercer
essa profissão encontrem aqui as respostas para muitas de suas perguntas e
façam suas escolhas com bastante consciência da realidade que vão enfrentar.
Acima de tudo,
espero que este livro possa lançar uma luz mais forte sobre a verdadeira
condição de vida da mulher Comissária de Voo e desperte reflexões mais
profundas sobre a necessidade de adequação das leis que regulamentam essa
profissão. Que as jovens mulheres, cheias de vida e de sonhos, possam buscar e
encontrar a sua realização pessoal e profissional. Que elas possam fazer o que
gostam e cumprir seus papéis com competência e consciência, sem pagar um preço
elevado e injusto. Que possam voar na realidade e no sonho, com harmonia e
alegria!
(Palavras finais? - A nossa história continua...)
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