quinta-feira, 10 de julho de 2014

Palavras finais...

Palavras finais...

As viagens são o grande atrativo da profissão dos Comissários e Comissárias de Voo. Acredito que seria muito reduzido o número de jovens a se interessar por este trabalho se ele ficasse circunscrito ao ambiente interno de um avião (ambiente fechado, pressurizado, com ar seco e baixa temperatura) em voos que podem durar mais de 10 horas seguidas, com dezenas e mesmo centenas de passageiros que esperam ser atendidos com exclusividade! Também não seriam atraídos por esta profissão se ela se restringisse a cuidar exclusivamente de situações de emergência... Quem aguentaria ficar o tempo todo “focado” em combater incêndios a bordo ou fazer pousos forçados no mar ou em terra?!
Além de gostar de viajar e lidar com o público, têm outras razões que levam os jovens a escolher esta profissão: a sensação de fazer parte de um mundo sem fronteiras; a sensação (nem sempre verdadeira) de ter maior liberdade e mais tempo livre; a possibilidade de visitar familiares e amigos que moram longe, ficar em bons hotéis... E o salário, é claro! Embora as exigências das empresas sejam muitas (no sentido do “ser”), não é preciso ter frequentado uma universidade ou concluído um curso de pós-graduação, que exige anos de estudo e esforço, para ser admitido nesta profissão.
Passados os primeiros tempos, onde tudo é novidade, o trabalho começa a mostrar o seu lado repetitivo e cansativo. Nos voos curtos, com muitas escalas, ou nos voos internacionais, quase sempre lotados, os comissários e comissárias, na realização de suas obrigações, se desdobram para que os passageiros tenham uma viagem boa, segura e confortável. Mas, os pequenos incidentes e imprevistos também acontecem.
Após longas jornadas de trabalho, que vão muito além das horas voadas, se a escala de voo não permitir um tempo adequado para o descanso e o convívio familiar, a vida particular vai ficando difícil e surgem desequilíbrios físicos e emocionais. O organismo se ressente e as reações aparecem: insônia, irritabilidade, ansiedade, facilidade para contrair gripes e resfriados, além de outros problemas de saúde.
A necessidade de trabalhar, de se sentir útil e ganhar o seu próprio sustento, em uma atividade charmosa que permite conhecer muitos lugares, absorver novas culturas, fazer novos amigos, são razões que prendem as pessoas nesta profissão, apesar do constante desgaste que ela produz.
Os aspectos vantajosos da profissão todo mundo conhece. Mas os aspectos negativos são desconhecidos do público e desconsiderados pelas empresas de transporte aéreo. Eles existem e tem um peso muito grande na relação custo-benefício vivida por esses profissionais. Com o passar dos anos, a situação tende a piorar, como já foi visto no Resultado da Pesquisa (páginas 71 até 129).
Na admissão, a empresa exige juventude, saúde, boa aparência, e inúmeras habilidades comportamentais, como: boa postura, boa comunicação, boa educação, sociabilidade, amabilidade etc. Mas as condições de trabalho (incluindo, principalmente, a sobrecarga da escala de voo) e a falta de reconhecimento das chefias, vão minando o lado emocional que comanda o potencial do funcionário.  Nesses  últimos anos, as condições de trabalho dos Comissários de Voo ficaram ainda mais difíceis...
Não é minha intenção desmotivar as jovens que desejam escolher esta profissão, por qualquer que seja o motivo. Muito ao contrário. Para elas, cito uma frase do poeta Fernando Pessoa que ouvi aos onze anos e nunca mais esqueci: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”! Sim, quando trabalhamos com amor e dedicação, engrandecemos a nossa alma! Trabalhar e servir as pessoas enobrece o ser humano. A profissão de Comissário e Comissária de Voo é muito digna e bonita. Mas o trabalho pode se tornar muito desgastante e frustrante, se as condições oferecidas pelas empresas forem abusivas e se a lei que regulamenta a profissão estiver desconectada da realidade.
Espero que as informações registradas neste livro sirvam para mostrar o lado real da atividade dos Comissários e Comissárias de Voo – profissionais que a sociedade e a mídia continuam a focalizar de forma superficial e estereotipada. Espero, também, que as jovens que sonham exercer essa profissão encontrem aqui as respostas para muitas de suas perguntas e façam suas escolhas com bastante consciência da realidade que vão enfrentar.
Acima de tudo, espero que este livro possa lançar uma luz mais forte sobre a verdadeira condição de vida da mulher Comissária de Voo e desperte reflexões mais profundas sobre a necessidade de adequação das leis que regulamentam essa profissão. Que as jovens mulheres, cheias de vida e de sonhos, possam buscar e encontrar a sua realização pessoal e profissional. Que elas possam fazer o que gostam e cumprir seus papéis com competência e consciência, sem pagar um preço elevado e injusto. Que possam voar na realidade e no sonho, com harmonia e alegria!

(Palavras finais? - A nossa história continua...)

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