Ella*
Nasci
em 1940, no Rio Grande do Sul. Meus pais e avós, paternos e maternos, vieram da
Alemanha na época da Segunda Guerra Mundial com esperança de começar vida nova
no Brasil - um país considerado novo e de boas oportunidades. Mas a realidade
que aqui encontraram foi muito diferente daquela que haviam sonhado. As
dificuldades enfrentadas foram muitas, começando pela comunicação, pois não
falavam o idioma português. A família de meu pai entrou no Brasil por Santa
Catarina e depois foi para São Paulo. A família de minha mãe entrou por Recife,
passou por Mato Grosso e acabou se estabelecendo em São Paulo.
Meus
pais se conheceram e se casaram em São Paulo. Depois de casados, se mudaram
para o Paraná e mais tarde para o Rio Grande do Sul. Com os filhos pequenos,
que já frequentavam a escola, eles aprenderam a falar melhor o português,
depois de passar momentos difíceis, quando o governo brasileiro proibiu aos
imigrantes alemães de falarem sua língua de origem. Naquela época, até as
crianças pequenas eram maltratadas se falassem o idioma de seus pais e assim
nós acabamos esquecendo a língua de nossos ancestrais. Apesar das diferenças
culturais, meus pais acabaram se adaptando.
No
Brasil as pessoas tinham mais liberdade e não sofriam um policiamento ostensivo
– como acontecia na Alemanha daquela época. Lá, a rigidez era ostensiva e o
povo tinha uma vida muito disciplinada. Mas a gente vê o resultado dessa
disciplina na organização do país, onde tudo é muito certinho e onde tudo
funciona bem. Aqui, por causa do excesso de liberdade, existem muitos outros
problemas.
Influência familiar
Sou
a mais nova de uma família de três irmãos. Nas lembranças de minha infância a
união e a harmonia nas relações familiares estão muito presentes. Meus pais
cobravam muito as questões de disciplina, educação e honestidade, mas também
estavam sempre presentes e eram amigos e brincalhões. Explicavam as
consequências de certas atitudes e decisões que podíamos tomar. Faziam-nos
pensar, refletir. Orientavam-nos, mas nos davam liberdade para decidir e depois
da decisão nos apoiavam. Isso nos deu muita segurança e independência. Eles
mostravam as vantagens e desvantagens de cada situação.
Primeiro emprego
Quando
eu era jovem, queria fazer vestibular para Medicina, mas tive que interromper
os estudos aos 17 anos, quando minha mãe ficou doente. A situação financeira da
família exigiu que eu começasse a trabalhar fora. Consegui meu primeiro emprego
como secretária no escritório de uma empresa em Porto Alegre porque eu era
muito ousada e na entrevista afirmei que sabia tudo o que tinha que fazer
naquela função. Para minha própria surpresa, passei nos testes e fui admitida.
E assim comecei a trabalhar numa grande empresa de importações. Ao mesmo tempo,
fui atrás da instrução que necessitava para realizar bem o meu trabalho.
Comprei livros e passei a estudá-los nas horas de folga. O resultado foi
positivo, pois recebi elogios no final do primeiro mês. Dois meses depois fui
promovida e três meses depois ganhei aumento.
A
empresa onde eu trabalhava ficava longe de casa e para chegar no horário tinha
que levantar às 5h30min da manhã. Depois do expediente ainda ia para os cursos
de idiomas (inglês e francês) e desenho arquitetônico. Voltava para casa perto
da meia noite. Era cansativo, mas eu achava que valia o esforço, pois gostava
de estudar idiomas e desde pequena queria aprender francês. Lamento não ter
recuperado o alemão que falava quando era criança, pois fiquei com aquele
sentimento de aversão causado pelo sofrimento imposto à minha família. Eu entendo
o idioma de meus antepassados, mas não consigo falar e conheço outras pessoas
que vivem a mesma experiência.
Mudei de emprego várias vezes, pois
aproveitava as oportunidades que iam surgindo com oferta de melhores salários.
Na medida em que ia aprendendo, também ia procurando melhores colocações.
Quando minha mãe faleceu, aos 44 anos, eu estava com 19 anos. Foi um grande
abalo para toda a família, pois a mãe é a centralizadora de uma família.
Aviação
Eu
tinha uns 16 ou 17 anos quando minha irmã começou a trabalhar na Varig e achava
toda aquela movimentação muito interessante. Era a época das primeiras
aeromoças e a empresa só admitia moças a partir dos 21 anos. Minha irmã voou
apenas uns dois anos e pouco. Naquela época elas só voavam no Rio Grande do Sul,
no DC-3. Os voos iniciavam bem cedo e tinham muitos pousos e decolagens.
Os aviões subiam e desciam umas 10 vezes, era uma coisa muito louca! Antes de
trabalhar no voo, as moças faziam um estágio no aeroporto, como despachantes.
Eu
ficava encantada, queria saber tudo o que a minha irmã fazia e procurava ajudar
em tudo que podia. A empresa era pequena e todos eram muito amigos.
Regulamentação não existia naquele tempo e o entusiasmo era grande. Depois
vieram os Curtiss Commander e os voos para São Paulo. Os tripulantes
pernoitavam, lá longe, em São Paulo! Mais tarde chegaram os Convair,
os Super Constellation e o sucesso era cada vez maior. Eu ia lá para o
aeroporto e ficava vendo a decolagem, até o avião sumir no céu. Era muito
emocionante.
Minha
irmã saiu da aviação porque achou que o trabalho afetava muito a saúde. Ela
dizia que não tinha estrutura adequada para aquele tipo de vida. Gostava de
fazer as coisas com calma e na aviação era tudo correria e agitação. Ela voltou
a ter uma vida mais tranquila e depois trabalhou em outros empregos.
Panair do Brasil
Entrei
para a aviação com 21 anos. Foi meu pai que me avisou que a Panair do Brasil
estava precisando de aeromoças. A empresa estava recrutando candidatas em Porto
Alegre, mas a base seria no Rio de Janeiro. A mudança de cidade e de estado
deixou-me um pouco insegura e mais uma vez recebi o apoio de meu pai, que
disse: “Você vai se sair bem, eu tenho confiança em você.” Só depois de passar
na entrevista e nos testes, é que os meus irmãos e demais familiares ficaram
sabendo da grande mudança em minha vida.
Eu
disse a todos que voltaria três anos depois, mas não voltei. Fui para o Rio de
Janeiro fazer o curso da Panair, acompanhada de mais duas moças. Uma delas
desistiu no final do curso e todos já haviam percebido que ela tinha ido apenas
para passear e conhecer o Rio de Janeiro. A outra se tornou minha amiga e
moramos junto por algum tempo. Depois, cada uma quis sua própria moradia, mas
nunca perdemos o contato e sempre nos ajudamos como irmãs.
A
estrutura da Panair era excelente, tanto no ambiente de trabalho como no
relacionamento funcionário-empresa e eu me adaptei com facilidade. A Panair do
Brasil, que era subsidiária da Pan American Airways (que depois passou a se
chamar American Airlines), fazia voos para a América do Sul e Europa. Voávamos
de Constellation do Rio de Janeiro para Belém, Fortaleza e Chile. Pouco
tempo depois fui promovida para as linhas internacionais e comecei a fazer voos
de DC-8 para a Europa. Ficávamos em Lisboa e os tripulantes daquele baseamento
faziam os voos para Roma, Zurich, Frankfurt e Beirute.
A
vida na aviação transcorria tranquila. Éramos comandadas pela Diretoria de
Operações e tínhamos um gerente que cuidava especificamente do assunto das
comissárias. Viajar era sempre uma festa. Quando uma empresa é pequena tudo é
sempre mais fácil de administrar.
Imprevistos
Em 1964, quando a Panair do Brasil fechou, eu estava
com 24 anos e morava no Rio de Janeiro, no apartamento de uma família gaúcha.
Era um apartamento muito grande. Eu e minha colega de curso ficávamos num dos
quartos. O ambiente era maravilhoso, todos gostavam de ir lá, a gente dizia que
tinha mel. Nos finais de semana a casa ficava cheia. Foi uma sorte muito grande
ficar num lugar assim, com pessoas maravilhosas com as quais me dou até hoje.
O fechamento da Panair foi horrível! Fiquei numa
situação de insegurança muito grande. Bruscamente, fiquei sem dinheiro para
pagar moradia e alimentação. Foi uma fase muito difícil! Eu estava com as malas
prontas para embarcar, ia viajar no dia seguinte para o baseamento de Lisboa e nem
acreditei que fosse verdade. Fiquei sem trabalhar durante muitos meses.
Vários órgãos do governo brasileiro aceitaram a
inscrição dos ex-funcionários da Panair e cada um conseguiu emprego de acordo
com a sua escolaridade. Eu fui trabalhar num Hospital de Cardiologia como
oficial administrativa, o que no serviço público é um cargo alto e exige muito
estudo para passar num teste rigoroso. Entrei por cima, por causa do nível de
escolaridade. E a receptividade que tive, por parte dos outros funcionários, não
foi boa. As pessoas que lá trabalhavam e que tinham feito aqueles cursos e
testes, não se conformavam com o fato de eu ter entrado sem passar pelos
mesmos. Procurei ver o lado deles, achava que tinham razão de estarem magoados
e aborrecidos, por isso os desculpei pelas indelicadezas que me fizeram.
Apesar das
dificuldades, eu consegui criar um bom ambiente de trabalho e fazer amigos
durante os sete meses em que trabalhei no Hospital de Cardiologia. Visitava os
doentes e os médicos, assistia cirurgias e participava de quase tudo lá dentro.
No dia em que avisei que ia sair porque ia trabalhar na Varig, muitos colegas
do Hospital até choraram. Minha amiga aeromoça, que tinha conseguido trabalho
no Departamento de Trânsito, também voltou para a aviação e foi trabalhar na
Cruzeiro do Sul.
Varig
O retorno ao voo foi cheio de emoção. Para conseguir
entrar na Varig eu tive que me inscrever seis vezes. Cada vez, acredito, a
movimentação de papéis e o tumulto eram grandes e eu não recebia nenhuma
comunicação me chamando. De tempos em tempos eu ia lá e a minha ficha tinha
sido extraviada. Então eu preenchia outra. Até que um dia eu encontrei uma moça
que antes trabalhara na Chefia de Pilotagem da Panair e expliquei para ela o
que estava acontecendo. Ela foi, pessoalmente, com a minha ficha ao setor que
cuidava do assunto. E assim, em outubro de 1965, consegui entrar na Varig.
Fiquei surpresa com a engrenagem que encontrei na
Varig. Na Panair eu já fazia voos internacionais, mas na Varig tive que voar no
setor doméstico e não entendia muito bem a razão. Eles me disseram que eu
estava entrando como nova na empresa. Alguns colegas meus, da Panair, tinham
conseguido contar o tempo de voo e ficaram com matrícula mais antiga. No tempo
em que as minhas fichas iam desaparecendo, outras pessoas da Panair estavam
sendo admitidas na Varig. Tive que fazer todo o curso novamente. Eu achei que o
curso da Panair era mais estruturado e que na Varig a gente perdia muito tempo.
Eram pessoas de terra que nos davam o curso.
Na Varig, comecei a trabalhar no Electra, nas
rotas domésticas. E fiz dois voos com esse mesmo equipamento para Lisboa, em
conjunto com a TAP, no “Voo da Amizade”. Esse voo costumava ser feito pela
Panair, com o DC-7. Fazia escala em Recife e na Ilha do Sol, antes de pousar
em Lisboa. Depois, trabalhei no Caravelle, no B-707, no Coronado
e no DC-8. Mas não demorou muito para ser promovida para as rotas
internacionais.
Infelizmente, minha passagem para os
voos internacionais causou mal-estar entre os colegas mais antigos. Quando eu
entrei na Varig, a empresa tinha 327 comissários. Passei na frente de muitos
deles em função de falar outros idiomas e de já ter experiência nos voos
internacionais. Mas fui muito maltratada nos voos. Mais uma vez, eu entendia a
situação deles, mas não podia recusar a promoção. Mesmo que recusasse, não
garantiria que eles seriam promovidos. Então fui em frente.
Escala
de voo
O relacionamento do pessoal do voo com o pessoal da
Escala era muito mais tranquilo no tempo anterior à Regulamentação Profissional
dos dias de hoje. Quando surgia algum imprevisto e isso ocorre com frequência
na aviação, eles nos chamavam a qualquer hora do dia ou da noite e se a gente
não estivesse em condições de voar tinha a liberdade de dizer. Era um
relacionamento muito camarada. Eu vivia inteiramente para a aviação e gostava
muito da vida que levava.
Pernoites
As frequências dos voos internacionais, naquela época,
eram poucas e isso significava que, nos pernoites, os tripulantes tinham muito
mais tempo livre. Ficávamos alguns dias inativos nas principais capitais
europeias: Lisboa, Roma, Paris, Londres. Assim, podíamos conhecer muitos lugares e absorver a
cultura de cada país.
Em geral, as pessoas têm interesses muito diferentes.
Quando o grupo é pequeno fica mais fácil conciliar esses interesses. Eu não
saía muito em grupo. A verdade é que eu já chegava aos pernoites com meus
objetivos. Se não conseguisse gente para me acompanhar, ia sozinha. Raramente
deixava de fazer o que queria: conhecer museus, pontos históricos, parques, grandes
magazines. E, às vezes, ficar num só lugar e apreciar o movimento.
Muitos dos meus colegas não falavam outros idiomas e
passavam muito tempo nas ruas comerciais, visitando lojas e fazendo compras. Eu
achava uma pena ter saído da minha casa, me transferido para o Rio, ter
trabalhado a viagem inteira, para chegar à Europa e ficar só dentro de lojas.
Quando coincidia de encontrar colegas com interesses semelhantes aos meus
saíamos junto. Mas se fosse só para ver o comércio e fazer compras, eu não os
acompanhava, pois essas coisas não me agradavam. Não quero dizer que não
visitava lojas, que não fazia compras, também fazia isso, mas não o tempo todo.
Fiz muitos passeios fora de Paris, fora de Londres.
Entrava nas agências de turismo e escolhia os passeios que queria e podia
fazer. Em Lisboa eu fazia a mesma coisa. Sempre fui muito independente, talvez
por ter sido criada assim. Meus pais nos passaram essa segurança de ir atrás do
que queríamos.
As
mudanças no perfil da aeromoça
As primeiras aeromoças foram
admitidas na Varig porque foi criada uma lei internacional que obrigava as
empresas a contratarem moças para atender as mulheres que viajavam de avião. A
Varig foi obrigada a contratar moças contra a vontade de Rubem Berta, o
presidente da empresa. Mas eles nunca se arrependeram.
A Terezinha e a Margot estavam entre
as primeiras a serem contratadas. Quando elas começaram a voar para Nova York
de Constellation, o aeroporto era um galpão de madeira, uma coisa quase improvisada.
Também não existia o setor de Comissaria (responsável pelas refeições de
bordo), nem de limpeza de interiores das aeronaves. Ao chegarem dos voos, os
comissários iam para o hotel e no dia seguinte voltavam para o avião e faziam a
limpeza. Depois retornavam ao hotel para descansar. Assim iniciavam o voo da
volta com o avião todo arrumado por eles mesmos no dia anterior. A comida era
encomendada, mas eles tinham que ajudar a acondicioná-la no avião. Hoje nós nem
conseguimos imaginar esse acúmulo de tarefas.
A Terezinha e a Margot pernoitavam
em Trujillo na América Central e voavam de Caravelle para Nova York. Era uma
aviação muito diferente daquela que hoje conhecemos. Elas começaram a vida
profissional fazendo um estágio no Despacho do Aeroporto, experiência que nós
não tivemos. Naquela época não era permitido casar nem ter filhos. Quando eu
entrei não podíamos usar óculos de sol e o cabelo só podia ser curto ou preso.
As regras ainda eram muito rígidas.
O uniforme era o mesmo, dentro e
fora do avião. Depois tivemos saia com blusa, mas a gente trocava a blusa
porque era de algodão engomado. Mais tarde tivemos vestidos, com mais de uma
cor. No meio do voo trocava-se a cor do uniforme. Assim tudo foi evoluindo até
chegar nesse uniforme mais recente, com esse jaleco com um bolso, que é mais
prático para trabalhar. Sempre pleiteamos calças compridas, mas sempre houve
uma barreira forte na empresa para autorizar seu uso.
Na América do Norte, quando as
empresas idealizam um uniforme elas criam várias peças que se combinam entre
si. Mas o uniforme é pago pela comissária, então ela vai ao setor de uniformes
e escolhe o que prefere usar. Elas acabam se vestindo cada uma do jeito que
acha melhor. Há empresas norte-americanas, com base no Havaí, onde as
comissárias usam roupas típicas do Havaí. Elas têm esse direito porque são de
lá. Usam aqueles vestidos com aquelas flores, que procuram combinar com o
uniforme, ou optar por um ou outro. As empresas são mais liberais, enfatizam a
boa aparência. O uso de bijuterias ou prendedores de cabelo também fica a
critério de cada comissária.
Comissárias X Comissários
Quando
iniciei minha carreira de Comissária de Voo, ainda se usava o termo aeromoça.
As qualidades femininas eram mais destacadas e as mulheres eram tratadas com
mais delicadeza. O trabalho mais pesado ficava para os homens, assim como o
serviço de drinks e o cafezinho. Durante as viagens, distinguiam-se as tarefas
para os homens e as tarefas para as mulheres. Com a expansão da aviação e o
crescimento das aeronaves, aumentou o número de passageiros e,
proporcionalmente, o número de Comissários para atendê-los a bordo.
Modificações foram feitas nos
procedimentos dos serviços oferecidos aos passageiros e os homens passaram a
realizar as mesmas tarefas que as mulheres, com poucas exceções, como trabalhar
na galley ou abrir e fechar as portas dos aviões. Comissários auxiliares,
do sexo masculino, ainda eram designados para essas funções. Aumentaram também
as cabines de passageiros, com a implantação da cabine executiva, intermediária
entre a primeira classe e a classe econômica. E, como consequência, surgiu a
necessidade de novos cargos a bordo.
Acompanhando o movimento feminista
que crescia a nível mundial, as mulheres Comissárias também exigiram maior
participação e direitos na esfera profissional. Se as exigências e os
requisitos eram os mesmos para rapazes e moças que ingressavam na profissão, os
direitos às promoções aos cargos deviam ser os mesmos. Essa busca pela
igualdade de direitos profissionais implicava na contrapartida: elas teriam que
fazer todas as tarefas que os cargos exigiam. O que era apenas uma questão de oportunidade.
A oportunidade chegou com a vinda do
DC-10. Além do Chefe de Equipe (cargo novo e ainda reservado aos homens),
responsável por todo o avião, havia o cargo de Supervisor de Cabine, nas
classes executiva e econômica. Então criaram a função de Primeira Comissária
para as mulheres mais antigas e experientes na profissão, geralmente com muitos
anos de trabalho na primeira classe.
A Primeira Comissária ficava
solta, não tinha uma função específica dentro do avião. Era a hostess e
ainda tinha um pouco de figura decorativa, pois a ela competia dar atenção
especial aos passageiros e cuidar de pormenores. Ela ainda não tinha a devida
preparação para desempenhar esse papel, pois não tinha o hábito de ver o avião
como um todo, de atuar em todas as cabines, de conversar com todo mundo, de ver
quem precisava de uma atenção maior, uma atenção especial. Ela era tímida e se
prendia em alguma atribuição, em alguma cabine. E a atribuição de Primeira
Comissária não atingiu o objetivo esperado.
As
mulheres só começaram a concorrer aos cargos de Chefe de Equipe com a chegada
do B-747. Mas isso também não foi fácil. Na época, o próprio Diretor do Serviço
de Bordo da Varig era contra a ideia de ter mulher na função de Chefe de
Equipe. O tempo foi passando e as mulheres foram mostrando a insatisfação que
sentiam. Sabiam que, por mais que se esforçassem, seriam prejudicadas na hora
da aposentadoria,
se não atingissem o topo da carreira. Elas consideravam isso uma injustiça, já
que no desempenho da profissão eram mais cobradas, principalmente em relação à
aparência, e mais ainda com o avançar da idade. A comissária não podia
engordar, não podia ter cabelo branco, tinha que estar sempre em forma.
A desculpa da não promoção ao cargo
de Chefe de Equipe ficava por conta do lado emocional. Diziam que a moça não ia
dar conta e segurar as situações difíceis. Eu sempre fui muito crítica e sempre
contestei as discriminações que sofríamos. E dizia que nem todas as moças
estavam qualificadas ou tinham condições emocionais para serem Chefes de
Equipe, mas que isso também valia para os homens. E mesmo assim, alguns deles, não qualificados,
exerciam a função. Muitos colegas não gostavam de se expor em discussões com a
chefia. Mas eu sempre expus a minha opinião e até esperava que me destituíssem
do cargo de instrutora por causa disso. Para minha surpresa isso nunca
aconteceu.
Numa ocasião, finalmente, se
discutiu a possibilidade das moças serem Chefes de Equipe. Já havia moças
supervisoras que estavam chegando perto da aposentadoria. Não era o meu caso
porque eu era mais nova. Naquela época, nós tínhamos na Chefia das Comissárias
uma pessoa maravilhosa, mas muito preocupada com a aparência das moças.
Tecnicamente não estava tão por dentro das coisas. Ela tinha a cabeça voltada
para a parte social e não a técnica. Mesmo assim houve um avanço, depois de um
Seminário realizado na Marinha, portanto fora da Varig, onde todos puderam
falar e expor suas ideias.
Foi uma semana de discussões
calorosas. Quando surgiu a questão das mulheres que queriam concorrer às
promoções em igualdade de condições com os homens, eles alegaram que a empresa
procurava dar esses cargos a eles porque tinham mais encargos de família e que
por isso precisavam receber mais. Eu contestei: “Posso apresentar vários
colegas homens que não têm encargos de família, e outros que largaram suas
famílias. Então, esse não é argumento que justifique, inclusive porque é uma
discriminação. Os encargos de família são opções pessoais de cada um. Se optei
por não casar e não ter filhos, isso não pode afetar a minha carreira na
profissão que escolhi”.
Depois, eles alegaram que a moça era
muito emocional, que não ia dar conta da segurança nem administrar todos os
problemas que aconteciam dentro do avião. Então eu falei: “Eu vou evitar
comentar voos que fiz com Chefes de Equipe homens, onde aconteceram coisas
inadmissíveis. E no final todos chegaram sãos e salvos. Se eles podem cometer
erros, a mulher também pode”.
Eu brigava muito por esta questão,
embora estivesse muito longe de disputar essa posição em função da antiguidade.
A ideia em si é que eu não aceitava essa discriminação em função dos argumentos
que eles apresentavam. E isso durou anos.
Um dia o Diretor me chamou e
perguntou: “Se eu convidasse você para ser Chefe de Equipe, o que você faria”?
Aí eu respondi: “Em princípio, acho que está tudo errado porque eu estou fora
da antiguidade, não é minha hora de sair Chefe de Equipe. Eu não posso passar
na frente dos outros. Isso não é justo e vai criar um mal estar no grupo. A
questão é que ele podia escolher duas ou três pessoas que estavam dentro da
regra e outra que estava fora da regra, porque era diretor e tinha esse
direito. Eu não concordei com isso. Aí ele disse que ia determinar que eu fosse
promovida. Então eu disse: “Se o senhor está determinando, sob protesto, vou
ter que aceitar”. Enfim, eu não fui promovida, mas outras colegas, mais
antigas, foram.
Ainda naquele seminário, quando os
colegas não tinham mais argumentos, eles disseram: “Então vamos botar uma moça
como Chefe de Equipe no voo que sai hoje à noite para Nova York e vamos ver o
que vai acontecer!” Essa eu também não aguentei e respondi: “Vocês estão
mostrando um lado muito feio, porque os rapazes começam a ter cargos de Chefia
quando estão lá no início dos voos domésticos e, mesmo quando fazem coisas
erradas, não perdem os cargos. Eles são orientados e vão sendo promovidos,
voltam a errar e não perdem os cargos. Agora vocês querem que uma moça, que foi
sempre impedida de fazer qualquer coisa e de tomar iniciativas dentro do avião,
seja exposta, sem nenhuma orientação, e faça o que os homens estão fazendo há
20 anos? Vocês não sentem vergonha?!”
E continuei: “O que é preciso é dar
preparo para elas, que não vai ser igual ao de vocês que já tiveram a vivência
de todos esses anos. Apesar de alguns, mesmo com todos esses anos, ainda serem
péssimos profissionais. É preciso primeiro preparar essas mulheres para
assumirem a função. E eu tenho certeza de que depois elas farão voos com muita
tranquilidade e que os passageiros vão todos ficar satisfeitos”. E foi
exatamente isso que aconteceu. E eu fiquei feliz.
Depois de toda essa luta pela
promoção das mulheres, fui para a base de Los Angeles. Fiquei lá durante muitos
anos. A minha hora de promoção passou porque eu estava no baseamento. Quando
voltei, fui promovida e atuei como Chefe de Equipe durante apenas oito meses. Já
estava na hora da minha aposentadoria. Mas eu me sinto gratificada, me sinto
feliz porque conseguimos o direito à promoção. Eu tinha lutado por isso.
Outras conquistas
Também lutei por outras questões
menores, como o direito da mulher fazer reserva no aeroporto semi-uniformizada,
como os homens faziam.
Mas isso não deu certo, pois elas
não corresponderam: algumas chegavam de shorts, sem maquiagem, de cabelo
lavado, esqueciam documentos... Agiram de uma forma muito irresponsável. Na
verdade, se pensarmos no conjunto, até um tempo atrás a grande maioria das
brasileiras não eram profissionais como deveriam ser. Elas não levavam a profissão
com a seriedade que deveriam levar. Elas queriam as vantagens, as regalias dos
cargos, mas não gostavam das obrigações que o exercício dos cargos exigia. Elas
preferiam se sentir charmosas, cheias de dengo...
Esse ponto de vista eu já tinha
antes de sair daqui do Brasil, principalmente porque dentro do avião, nos
hotéis, nos pernoites, se discutiam pontos de vistas e as moças faziam
colocações com razão, mas na hora que o avião chegava ao Rio de Janeiro, elas
iam para casa. Já os rapazes iam até a empresa levar e discutir os problemas. É
esse o lado difícil da nossa profissão.
Depois, morando na América e
conhecendo muita gente, inclusive tripulantes, vi que as moças americanas não
abrem mão de participar dos debates e discussões sobre suas carreiras. Elas
comparecem e participam, têm voz ativa. A nossa moça, brasileira, tem a
tendência de, mesmo estando de folga, não comparecer. Ela não se posiciona
ativamente, não luta pelos seus direitos. Então, muitas coisas que elas
conseguiram, não foi porque lutaram, simplesmente ganharam.
Nostalgia
A aviação era muito diferente daquela que hoje
conhecemos. Os voos eram muito cansativos, mas era um cansaço diferente, porque
os aviões eram menores, os passageiros eram mais educados, e a cultura, dentro
e fora da empresa, era outra. As pessoas que viajavam eram menos exigentes,
menos egoístas e mais solidárias. Eu me lembro desse tempo com nostalgia. Cada
viagem era uma festa, uma grande aventura. Não tínhamos os problemas que hoje
temos.
A aviação se tornou
transporte de massas. Antigamente as pessoas até trocavam de roupa durante uma
viagem, queriam estar bem arrumadas. A gente renovava o penteado e a maquiagem.
E a preparação, anterior à viagem, também era grande. No dia do voo, íamos para
o cabelereiro, cuidávamos da pele, do cabelo, das unhas. Era um cerimonial.
Havia romantismo, levávamos roupa bonita para usar nos pernoites, nos arrumávamos
para ir jantar em certos lugares. Eu gostava do ritual de me preparar para
viajar, de me sentir em plena forma, e, na hora em que fechavam a porta do
avião, podia pensar: “Agora, a aviação está conosco, vamos poder arrumar tudo
bonitinho, estamos em casa”.
No final da viagem víamos os
passageiros contentes e sorridentes por terem feito uma boa viagem e chegarem
ao destino que queriam. Era muito bom e é verdade que a gente tinha muito mais
tempo para descansar, para passear e ir visitar o que quisesse. Era uma época
fantástica! Isso já não existe mais. Hoje tudo é diferente, a aviação é muito
mais dinâmica e a nossa escala de voo é bem mais apertada. Mudou a época, mudou
a mentalidade, mudou tudo!
Mudanças
na Varig X perfil profissional
A aviação foi se desenvolvendo e as mudanças na Varig
foram muitas, principalmente nos últimos 12 anos. Com o crescimento da empresa
e com a expansão das rotas, surgiu a necessidade de contratar muita gente em
pouco tempo. Contrataram muitas pessoas sem qualificação para a profissão.
Foram fazendo concessões na seleção de novos candidatos, admitindo sem o rigor
que antes existia. Os cursos perderam aquele aprofundamento e a atenção que se
tinha por parte da chefia também foi diminuindo. O quadro de comissários
cresceu muito, meio sem controle e o sistema chefia-funcionário começou a
mudar: muitos problemas que ocorriam a bordo, já nem sequer eram levados à
chefia, pois não havia tempo para se resolver tudo.
Em muitos aspectos, acho que os administradores deixaram
passar coisas demais. A empresa foi se diversificando, começaram a dar
prioridades a outras áreas. Os nossos assuntos, que eram importantes dentro da
organização do serviço de bordo, ficaram em segundo ou terceiro plano. Os
colegas mais novos encontraram mais dificuldades, pois não tinham o mesmo tempo
de treinamento que os mais antigos. E a chefia não tinha mais tempo adequado
para atender cada um deles.
Eu fui instrutora durante muito tempo e lembro que no
início se dedicava um bom tempo para treinar e orientar o novo comissário. A
gente começava a prepará-lo antes mesmo de ele fazer o primeiro voo. A gente se
encontrava antes e explicava como ia ser a viagem. “Vai ser assim durante o
voo, nós vamos servir isso e aquilo. Depois, na cidade, o clima vai ser tal, e
sugeríamos que levasse determinado tipo de roupa.” Dávamos uma orientação
completa para a pessoa que ia fazer o primeiro voo. Ela chegava ao avião e a
gente dizia: “Fique tranquila por que estamos aqui do teu lado; vá fazendo as
coisas e se tiver alguma dúvida venha nos perguntar. Se não souber, nós
mostraremos como se faz e depois você procura fazer do mesmo jeito”.
Tudo mudou a tal ponto
que depois as Comissárias e os Comissários entravam no avião sem nenhuma
instrução e dependiam da boa vontade dos colegas. Às vezes, podiam aprender com
um colega mais antigo que estava satisfeito e gostava do que fazia, mas também
podiam encontrar outro, bem diferente, que não gostava do que fazia. Podiam,
também, encontrar um colega que dizia “a minha função aqui não é te ensinar, eu
não sou pago para isso”. Como consequência, os mais novos foram fazendo o
trabalho à sua maneira e perdeu-se o padrão Varig que antes existia.
Eu tinha experiência na profissão e exercia cargo de
confiança, por isso mesmo, não me omitia nas reuniões de Chefia e dizia o que
pensava, embora nem todos gostassem de minhas observações. Quando isso
acontecia, eu acrescentava: “Feliz é a empresa que tem funcionários que
reclamam em prol da própria empresa! Quando todos silenciarem é por que já
perderam o interesse”.
Diretoria
do Serviço de Bordo X Diretoria de Operações
Com a extinção da Diretoria do Serviço de Bordo, a
Diretoria de Operações passou a cuidar das questões dos Comissários. Eu achei
lamentável a extinção da Diretoria do Serviço de Bordo na Varig. Perdemos
muito. Como tive a chance de trabalhar na Panair do Brasil, posso fazer a
comparação. Lá, quando tínhamos alguma dificuldade, não tínhamos uma chefia
independente que pudesse entender nossos problemas. Na Varig nós tínhamos isso.
É claro que não se tem o chefe que se quer, mas sim o chefe que a Empresa
decide ter. Para uns ele agrada mais, para outros não agrada tanto. Ninguém
consegue agradar todo mundo. Mas o importante é ter uma pessoa que está
batalhando, vendo e defendendo o nosso ponto de vista. Uma pessoa que ouve os
nossos problemas, que entende o que estamos dizendo e que procura nos ajudar a
resolver.
Hoje, não estou mais voando, mas posso acreditar que,
se uma comissária chegar para um comandante e contar para ele o que acontece na
cabine de passageiros, ele não consegue visualizar o problema porque o ambiente
de trabalho dele é completamente diferente. Ele não tem essa experiência para
entender o que a comissária quer dizer. E principalmente porque a função do técnico
é técnica. A função dele pode ser medida. Ou ele sabe trabalhar ou não sabe.
Não existe um engenheiro de voo que conheça mais ou menos o avião. Ou ele
conhece ou não conhece; se conhece apenas a metade, ele não está apto para
trabalhar. O piloto necessariamente tem que ser um bom piloto, mesmo que não
seja simpático. São pesos e medidas diferentes.
Nós podemos ter um
comissário que tecnicamente não é perfeito, mas é extremamente agradável com os
passageiros, tem boa vontade e os atende bem. É solícito, é prestativo, embora
às vezes falhe na parte técnica. Mas nós é que sabemos que é para fazer isso ou
aquilo. Nós é que sabemos quais são as
normas da empresa e as sequências do serviço. O passageiro não percebe essas
coisas, ele quer é ser bem tratado. A não ser que a falha seja muito grande. O
que o passageiro percebe é o atendimento, é o lado humano do comissário. Ele
pode ser aparentemente muito bonito, falar idiomas, estar impecável, mas não
ser delicado com os passageiros. Ele pode escutar o pedido do passageiro e pela
fisionomia dele o passageiro percebe que ele não gostou, que não tem vontade de atender. São
coisas muito sutis que a gente precisa anos de vivência para perceber no olhar,
na fisionomia, no gesto, se o comissário é um bom profissional e gosta do que
faz.
Como é que uma pessoa técnica, que
sempre mexeu com botões e comandos, pode avaliar isso numa pessoa? Por mais
fantásticos que sejam, eles não têm essa vivência. O comissário antigo pode
ficar lá atrás no avião e perceber quem está fazendo o seu trabalho com empenho
e dedicação, quem agradou ou desagradou o passageiro. São anos de vivência. E
temos que considerar que cada pessoa é um mundo e traz uma bagagem consigo, com
suas próprias características. A gente não pode padronizar os gestos, as
fisionomias, os sorrisos das pessoas. Então é preciso entender e aceitar cada
pessoa. São coisas muito delicadas. E uma pessoa que não está familiarizada com
isso pode fazer um mau julgamento, pode criar uma situação injusta.
Casamento, filhos
Na época em que entrei para a
aviação, a aeromoça não podia casar nem ter filhos. Se ela quisesse casar,
teria que se desligar da empresa ou seria demitida. Então, até podia viver
junto com alguém. Depois a empresa aceitou que ela casasse, mas não podia ter filhos.
Se engravidasse perderia o emprego. Mas muitas comissárias engravidaram e para
as empresas foi um problema de difícil solução. A gravidez afastava a
comissária da função e a vaga tinha que ser preenchida por outra. Como fazer
isso?
Nós
tivemos muitas brigas na empresa, discussões na Chefia, debates calorosos, até
fora da hora de serviço. A empresa investia muito na formação de uma comissária
e esta se tornava uma excelente profissional. Mas, se ela casasse e tivesse
filhos, que são direitos da mulher, pois é a sequência natural da vida, a
empresa teria que esperar um longo tempo até ela regressar ao trabalho. Então a
empresa tinha que fazer uma escolha. Valia a pena esperar o retorno da
comissária ao trabalho? Ou não! Afinal, depois da gravidez, a comissária ainda
poderia dar muitos anos de excelentes serviços, sem contar com o investimento
que a empresa tinha feito em cima dela, durante sua formação profissional.
Havia também a questão da mãe
comissária. Será que ela iria faltar em muitos voos se o filho ficasse doente?
Ou ela iria voar preocupada com o filho pequeno que deixara em casa e uma série
de outras questões. Nós defendíamos os direitos das comissárias e sustentávamos
que elas eram responsáveis e que valia a pena a empresa fazer a experiência
para ver o que ia acontecer. Se a comissária agisse de forma irresponsável,
então ela não ficaria na empresa. Mas devíamos dar uma chance àquelas que
queriam viver uma vida bem estruturada, porque isso ia ser bom para todos.
A fase difícil veio depois, quando a
porcentagem de comissárias grávidas se tornou grande em relação ao grupo de voo
e as vagas tinham que ser preenchidas. Esse era um grande problema e tivemos
muitas reuniões e discussões, porque as comissárias eram transferidas das
linhas nacionais para as internacionais com a finalidade de preencher as vagas
das colegas que estavam em casa de “licença maternidade”. E depois elas tinham
que voltar para linhas nacionais porque as comissárias que voltavam da “licença
maternidade” queriam seus lugares de volta. E o que fazer com as novas
comissárias que tinham sido admitidas para preencher as vagas nas linhas
nacionais? Como resolver tudo isso?
Foram muitas as discussões na
empresa sobre essa questão da mãe comissária. E eu me posicionei contra as
colegas que voltavam da licença maternidade e achavam que deviam recuperar o
seu lugar, sem se importar com o que acontecesse com as outras que as
substituíram. Lembro-me do que disse naquela época: “Não tenho nada contra as
comissárias que estão casadas e que têm filhos, mas essa é uma opção de vida
que elas fizeram. Falo em meu nome e em nome de muitas outras, que são
solteiras e que não têm filhos, ou que eventualmente não estão pretendendo ter
filhos. Essas pessoas não devem ser atingidas pela opção de vida que outras
fizeram, mesmo porque isso aqui é uma empresa e todo mundo luta e compete para
conseguir galgar os cargos e chegar ao topo da carreira. Então não acho justo
que uma comissária, que veio aqui preencher uma vaga de outra que foi tratar de
um assunto particular, agora tenha que voltar para o seu antigo cargo porque a
outra quer o seu lugar e aquela que foi admitida na nacional tenha que ser
demitida”.
As
demissões nunca chegaram a acontecer, mas ficou acertado, para o desagrado de
muita gente, que quando elas retornassem da licença maternidade iriam voltar
para o avião que tivesse vaga. Em princípio, muitas iriam até voltar para a
Ponte Aérea para poder ficar perto de casa e não se afastar tanto do
neném. Muitas até quiseram ficar na
Ponte Aérea, mas então já não havia mais vagas, pois outras na mesma situação a
ocupavam. Chegou uma hora em que as vagas na Ponte Aérea não eram suficientes
para todas as moças que tinham filhos recém-nascidos. Isso gerou um problema
para a empresa. Era muita gente de licença e muita gente que precisava ser
admitida para substituí-las. Depois elas voltavam e não gostavam de ter que
voar no avião que tinha vaga no setor doméstico. Aos poucos, as coisas foram se
acomodando.
As pessoas precisam ser justas,
olhar com objetividade, apesar de que a lei trabalhista lhes dá o direito, mas
aquelas que foram tratar de um assunto particular de suas vidas não podem
prejudicar outras pessoas. Essa questão sempre foi muito delicada, mas bem ou
mal foi sendo administrada. O resultado é que temos excelentes profissionais
que puderam criar seus filhos e continuam sendo boas funcionárias. A empresa
não perdeu nesse investimento.
Maternidade
A conciliação nunca foi fácil. Havia
moças mais sensíveis que sofriam muito ao se afastar de seus filhos pequenos.
Quando estavam nos pernoites, telefonavam para saber se os filhos estavam bem.
A estrutura emocional de cada pessoa é diferente. Muitas não tinham apoio
familiar na criação dos filhos. Houve moça que, sendo solteira e tendo filho
pequeno, tinha que sair para voar e deixar o filho com uma empregada que ela
mal conhecia. Deixava a casa e o neném nas mãos dessa pessoa. E se a empregada
não aparecia no dia do voo ela tinha que correr para pegar o ônibus e deixar o
filho com a família que morava distante e voltar de ônibus para assumir seu
voo. Imagine o seu estado emocional quando entrava no avião!
No meu caso, nunca pensei em casar e
ter filhos. Abracei a profissão totalmente. Sempre parti do princípio que, para
ter filho, a pessoa precisa em primeiro lugar uma casa bem estruturada, um
ambiente familiar muito bom, e eu não tinha isso. Eu também não estava correndo
atrás disso. O emprego e a vida que eu levava eram mais importantes para mim.
Baseamentos no exterior
Meu primeiro baseamento foi em
Lisboa. Fiquei poucos meses lá. Foi uma boa experiência. Pude ver o ritmo de
vida das pessoas que lá estavam. E, por sinal, um ritmo bastante puxado. O
avião decolava por volta de uma da tarde e retornava de madrugada. E a gente
voava muitos dias por semana.
Depois
fui para Los Angeles, fiquei lá uns dois anos e meio. Voltei para o Brasil e
fiquei aqui um ano e meio. Retornei a Los Angeles e fiquei lá uns nove anos. O
primeiro baseamento em Los Angeles foi uma festa porque era voar e passear,
conhecer, andar por toda parte. Não
tanto pela América toda, mas pelos arredores. Ver o que tinha, observar o ritmo
de vida totalmente diferente.
O Japão também foi uma novidade
muito grande. No Japão a gente não morava. Apenas visitava. Há coisas do Japão
que eu achei muito boas por estar lá passeando. Como não morava lá, não podia
avaliar as dificuldades que o povo encontrava para chegar onde estava, em
termos de desenvolvimento econômico.
A vida na América do Norte é muito fácil. A América é,
em princípio, estruturada para que uma pessoa consiga fazer tudo o que ela quer
sem precisar incomodar ninguém e sem precisar da ajuda de ninguém. Tudo
funciona. Se você vai numa loja, as coisas estão lá expostas e inclusive as
informações que você precisa; não precisa chamar ninguém para atender. As
instruções de como se usa e como se monta vêm junto com o produto. Até móveis
você pode comprar em peças e montar você mesmo. Tudo é feito para que você
possa viver sua vida, fazer suas coisas com muita praticidade e facilidade. O
sistema funciona de forma bem organizada. Eu me adaptei rapidamente porque
também sou uma pessoa muito organizada e prática. Planejo bem a minha vida.
Tudo é muito fácil se você entender e entrar no esquema de vida deles. Se
pesquisar você pode fazer o que quiser.
Durante meu segundo baseamento, no
tempo em que fiquei lá, inclusive como Chefe da Base, estive sempre ligada ao
pessoal do voo. O meu horário era totalmente à disposição da Varig, 24 horas
por dia, sábados e domingos. Sobrava pouco tempo para fazer outras coisas e me
relacionar mais. Eu gostaria de ter feito outras coisas. Mas isso exigia
participação constante e a vida na aviação não permite esse tempo. Pode dois
dias, três dias não pode. Mas foi um período maravilhoso porque cresci muito. E
mesmo no serviço, no relacionamento com os colegas, aprendi muito.
Era gratificante trabalhar com os
colegas porque eu achava que estava podendo ajudar as pessoas. Esforçava-me
para fazer o melhor que podia. Durante um período eu fazia o serviço de
escritório e ainda cumpria a escala de voo normal. Chegava de um voo e, às
vezes, ficava no escritório mesmo de uniforme e no dia seguinte levantava às
seis horas e às oito horas já estava no trabalho, mesmo com a diferença das 17
horas de fuso. Isso eu fiz o tempo todo. E muitas vezes tinha que ir ao
escritório nos fins de semana, porque tinha problemas com tripulantes ou troca
de tripulação.
Muitos fins de semana eu fiquei
sozinha no escritório num edifício comercial vazio. Mas eu achava que estava
fazendo uma coisa boa, apesar de ser, muitas vezes, mal entendida, mal
compreendida pelo pessoal. Mas tenho consciência de que fiz o melhor que eu
pude e da maneira mais honesta, mais imparcial possível. Nunca abri exceções,
nunca procurei proteger A, B, ou C. Muita gente levou a coisa na brincadeira,
achou que estava no baseamento de férias e que a escala tinha que se acomodar
com a vida deles. Tive muitos problemas. Atendi pedidos na confiança e na hora
faltou gente para voar. São situações difíceis, mas que nos fazem aprender muito
sobre as pessoas. Quando menos se espera, não dá para confiar. Tem que ser tudo
escrito e assinado, o que é triste, mas tem que ser assim para a gente se
proteger.
Eu cheguei a ter namorado americano, do interior,
aquele de cabeça muito pura. O pessoal mais do interior é maravilhoso. A gente
faz um julgamento muito errado se disser que o americano é frio, é isso ou
aquilo só porque a gente o conhece de passagem nas cidades grandes. O pessoal
das cidades menores é muito unido, tem muito calor humano. A gente frequenta a
casa deles e é uma maravilha! Sempre com um nível de muito respeito, ninguém
avança o sinal, respeita a privacidade de cada um.
Meu relacionamento com minha família
durante esse tempo todo foi constante e muito bom, apesar da distância. Eles
sempre ficaram tranquilos em relação a mim porque achavam que eu me defendia
com muita facilidade. A gente se falava muito, mas eu não ia visitá-los com
muita frequência. Eles eram muito agarrados lá no Sul e não viajaram muito
comigo. Convidei muitas vezes meu pai para ir à América, mas ele não aceitou.
Retorno ao Brasil
O retorno ao Brasil foi bom e ao
mesmo tempo difícil. O mais difícil para mim é essa diferença de estilo de
vida. A mentalidade do povo brasileiro é muito diferente. As pessoas lá na
América do Norte são um pouco mais sérias, são mais honestas. Se a pessoa
assume um compromisso com você pode ter certeza de que ela vai cumprir. Aqui
tudo é imprevisível, as pessoas são muito irresponsáveis. Isso é cansativo e
desgastante e a gente perde muito tempo. Enquanto eu estava lá, cheguei a ter
planos de ficar morando lá. Eu pensei: “O Brasil, por mais que se esforce, não
vai chegar a ter a qualidade de serviços de atendimento que existe aqui. Pelo
menos não no meu tempo de vida”. Então, para mim era compensador ficar morando
lá. Por mais que o Brasil melhorasse, enquanto eu vivesse, não alcançaria o
nível de vida que os americanos alcançaram. Era assim que eu pensava.
Mas a vida não é só feita de
facilidades. A gente também consegue viver com dificuldades e coisas
desagradáveis, quando pode ter mais calor humano e a amizade das pessoas que a
gente gosta. A gente tem que botar na balança e ver o que vale mais na vida, o
que se leva da vida: se é a facilidade de viver ou se é o relacionamento humano.
Eu entendo que o relacionamento humano pesa muito mais. Cheguei a essa
conclusão já nos últimos anos, antes de vir embora. Três ou quatro anos antes,
quando estava na condição de poder definir minha situação por lá, cheguei à
conclusão de que era melhor voltar ao Brasil. É muito bom se transferir para um
país estrangeiro quando se é jovem, pois o entrosamento cultural é mais fácil.
A gente vai achar graça das mesmas coisas, ter os mesmos valores. Mas isso não
acontece quando se tem 50 anos de idade.
Voltei para o Brasil um ano antes de me aposentar. Quem
estava no baseamento não tinha direito à promoção. Era uma norma da Empresa e
eu a respeitava, embora muitas vezes eu trabalhasse como Chefe de Equipe lá no
baseamento. Era minha opção ficar morando em Los Angeles, eu sei. Mas isso não
invalidava o meu direito de ser promovida quando voltasse.
Ao voltar ainda voei meio ano como supervisora. Verdade
é que nesse ponto eu fiquei bastante magoada, porque a alegação que me deram
era de que não havia vaga para eu atuar como Chefe de Equipe na época em que
voltei. Mas essa alegação não procedia porque uma pessoa saiu daqui para ser
Chefe de Equipe lá no baseamento. Então, a vaga dela abriu aqui e essa vaga
tinha que ser minha, porque a minha promoção já estava atrasada há mais de 12
anos. Eu havia sido chamada para ser Chefe de Equipe, tinha feito todos os
testes necessários, mas abri mão da promoção para ir ao baseamento.
Promoção X decepção
Ocupei, por muitos anos um cargo na
América do Norte em que respondia pela empresa, fazia contratos em seu nome,
pagava contas da empresa e inclusive respondia por problemas de colegas nossos
junto à polícia, junto ao FBI. Ao voltar para o Brasil, tive que fazer um teste
com uma psicóloga para saber se eu era qualificada para ser Chefe de Equipe!
Nessa ocasião eu fiquei decepcionada porque não era reconhecida por tudo que
havia feito. E, na verdade, a entrevista com a psicóloga, que era uma moça
muito jovem, não chegou a ser uma entrevista porque eu falei para ela tudo o
que ela não sabia a respeito da aviação. Contei para ela coisas que ela nem
imaginava, como eram as entrevistas de antigamente, como eram as coisas dentro
da empresa.
Além
disso, eu entendo que uma psicóloga nova não está qualificada para avaliar o
tripulante, porque ela está cheia de teoria, não tem experiência nem vivência e
muito menos da nossa profissão. Como é que ela pode avaliar o desempenho de um
comissário dentro do avião, numa hora de emergência ou num tumulto numa cabine
com 300 passageiros? Ela não tem essa condição; falei isso para ela. Disse que
respeitava a profissão dela, o sistema da empresa, mas que eu achava tudo
errado. E disse para ela: “Imagine você, com todo o conhecimento que tem, que
no meu entender é teórico, se estivesse numa cabine com 300 passageiros e
houvesse um problema sério lá dentro, o que você faria? Nada! Então, como é que
você pode avaliar e julgar um comissário que desempenha essa função lá dentro
há muitos anos?” Ela entendeu, disse que eu tinha batido num ponto muito sério
e que era preciso pensar.
A conversa foi muito boa! Ela me
perguntou muita coisa e procurou saber de mim o que podia. E eu fiquei até um
pouco mais conversando com ela para ela saber um pouco mais sobre o nosso
trabalho. Teve um teste individual e um em grupo, com pessoas bem mais jovens
do que eu na empresa. Eu até tinha que me segurar porque a minha experiência
dentro da empresa era muito maior que a deles. Eu podia até deixar as pessoas
em situação constrangedora.
Chefe de Equipe, primeiros voos
O meu primeiro voo como Chefe de
Equipe foi uma experiência como todas as que se faz pela primeira vez. Com
todos os anos de voo que tenho, sempre respeitei quando alguém mudou de posição
ou função dentro do avião. Respeitei, nos primeiros voos, a insegurança da
pessoa. Por mais experiência que se tenha, a primeira vez é sempre diferente.
Só que lá em Los Angeles eu já tinha feito voos como Chefe de Equipe, mas
sempre numa situação um pouco diferente. Era a Chefe da Base e o pessoal me
dava muito apoio, pois sabiam que eu estava ali para completar a tripulação do
voo. Aqui, o tipo de passageiro era muito diferente e a empresa vivia uma
situação mais difícil.
Cheguei
aqui no Rio de Janeiro numa época muito tumultuada: os passageiros estavam
muito revoltados, reclamavam, falavam mal, destratavam o tripulante. Havia
muito atrito entre os tripulantes e todo mundo andava muito nervoso. Eu achei
aquele ambiente muito louco! Era difícil botar ordem naquilo! Era uma garotada
nova, muito indisciplinada, que não tinha tido o devido treinamento. Era até
difícil falar com as pessoas. Elas não respondiam da mesma forma. Por isso o
meu primeiro voo como Chefe de Equipe foi bastante cansativo, pois muitas
coisas não funcionavam direito e a gente ficava sem saber o que dizer para os
passageiros. Quando eu ia à cabine de comando, não conhecia ninguém, todo mundo
era novo. Foi uma situação nova e muito tumultuada para mim. Mas depois dos
primeiros voos tudo foi se normalizando.
Em
relação à empresa foi muito difícil por causa dos atrasos nos voos, das coisas
que não funcionavam, do material que era insuficiente ou inadequado. E tinha
tripulante que subia e descia em todas as escalas. Uma confusão! A gente não
sabia quem fazia parte da tripulação, coisas que na minha cabeça eram
inadmissíveis numa empresa de aviação.
Como Chefe de Equipe eu não fazia o
briefing com os colegas em todos os voos. Não tinha nem condições. Era tudo
tão tumultuado, tão desorganizado! Uma tripulação técnica que ia até São Paulo,
desembarcava e vinha outra que a gente nem sabia se fazia parte, e os
passageiros já estavam a bordo. Com passageiros a bordo, já não tinha condição
de reunir os colegas para falar sobre o voo. Uma situação totalmente confusa!
Eram raras as vezes em que a gente podia reunir a turma e conversar. E a gente
não conhecia os colegas do voo, nem os nomes deles, nem se estavam todos dentro
do avião. O pessoal entrava e não se apresentava. Era uma coisa chocante! Foi
uma fase muito difícil! E não se via mais o respeito pela hierarquia e pela
antiguidade.
A garotada nova não tinha a menor
consideração pelas pessoas antigas, nem sequer pelo Chefe de Equipe. Isso ainda
é uma coisa que se pode trabalhar e mudar. A hierarquia tem que voltar a ser a
fundamentação da aviação, tem que ser respeitada. Eu vivi situações de
desrespeito comigo que me deixaram muito constrangida, numa posição desagradável
de ter que tomar atitudes, de não conseguir entender a pessoa que não tem
consciência do que está fazendo, que não respeita um colega que já tem 30 anos
dentro da empresa. Isso é uma coisa que precisa ser passada ao pessoal mais
novo para que eles mesmos, no futuro, sejam respeitados. O respeito cria um
ambiente mais agradável para todo mundo. É uma questão de falar e alertar, e é
muito importante.
Idade ideal para a aposentadoria
Acho que depende de cada um, o fato
de uma pessoa ser vaidosa e saber se cuidar. Isso independe de estar na aviação
ou não. A maneira como envelhece depende da pessoa. Se ela se desleixa, perde a
boa aparência. Acho que nós na aviação somos muito respeitadas, somos vistas
como pessoas que trazem uma colcha de experiências muito grande. Podemos
trabalhar até os 55 anos com tranquilidade.
A
Vasp obrigou as comissárias a se aposentarem aos 45 anos e eu acho que é uma
discriminação. Elas devem lutar pelos seus direitos, entrar na justiça e provar
que entraram na profissão quando eram jovens. Elas envelheceram lá dentro,
trabalhando para a empresa. Aos 45 anos estão no meio de uma carreira e ninguém
pode tirar esse direito de chegar até a aposentadoria. Depois dos 40 anos, que
profissão elas podem ter se não se qualificaram em outras áreas?
A Panam fez isso com as comissárias
e demitiu uma porção delas por considerar que eram muito antigas. Elas brigaram
na justiça durante seis anos e ganharam. A empresa teve que readmitir todas, do
jeito que elas estavam, gordas e de cabelo branco. Elas ganharam o retroativo e
a empresa teve que posicioná-las.
Falei com algumas delas que
encontrei no restaurante dos funcionários da empresa. Cheguei a pensar: “Mas
que gentileza, os tripulantes trouxeram as mães junto para o pernoite”. Graças
a Deus não comentei, porque depois fiquei sabendo que eram as tais comissárias
que a Panam tinha demitido por achar que já estavam velhas. Elas brigaram seis
anos e venceram: “Agora a empresa vai nos engolir como nós somos. Se ficamos
neste estado foi por culpa dela. Perdemos o emprego numa idade em que não
podíamos mais competir em outras áreas e foi na empresa que gastamos a nossa
juventude”.
Contratos de trabalho temporários
Na Varig, na área de Recursos
Humanos, estão querendo mudar o contrato de trabalho. Querem contratar as
comissárias por alguns anos apenas, e se a comissária se mantiver dentro do
perfil ela pode continuar mais tempo. A empresa está querendo se renovar, mas
não pode renovar os mais antigos... Eu acho crítico esse contrato por tempo determinado,
pois se você dedica 10 anos para uma empresa de aviação, em um tipo de
profissão que não serve para nada depois, como vai ser a continuação
profissional? Depois desse tempo, e com certa idade, vai ser difícil conseguir
outro emprego, ainda mais no nosso país onde a porcentagem de gente jovem é
muito grande. Que emprego você vai conseguir depois de trabalhar num avião? Se
for assim, a empresa também não vai poder exigir que a comissária se dedique
totalmente à empresa.
Seria
mais certo fazer o que as empresas do oriente fazem em muitos países: contratos
de apenas dois anos. Eles querem uma renovação constante e são mais honestos
fazendo esses contratos curtos. O jovem entra sabendo que depois de dois ou
três anos vai ter que escolher outra profissão, que não é ali que vai fazer
carreira. Mas acontece que nas empresas orientais tem um grupo, em geral de
rapazes, que vai assumindo os cargos de Supervisor de Cabine e Chefe de Equipe,
que comandam os jovens inexperientes. São eles que decidem e na mentalidade
deles isso é normal. Tem que ter alguém com experiência dentro do avião. Eu sou
contrária a essa ideia, porque num momento crítico, como numa emergência, esse
monte de garotinhas novinhas vai entrar em pânico e não vai resolver coisa
alguma e aqueles dois rapazes experientes não vão dar conta de cuidar de um
avião inteiro.
Durante décadas, a Varig cultivou a
dedicação completa de seus funcionários nessa profissão. Eles cortaram o sonho
das pessoas de abraçar outras carreiras. Estavam errados porque se
eventualmente alguém tivesse um problema de saúde, incompatível com o trabalho
na aviação, teria chances em outra área. As pessoas precisam proteger o seu
futuro, não podem ficar em função das ideias de um chefe, que mudam quando muda
o chefe. A vida está passando, a carreira está passando. Quando estiver numa
dificuldade quem vem ajudar?
Uniforme, imagem da Comissária de Voo
A figura da Comissária de Voo ainda
cria muita fantasia. Graças a Deus, posso dizer que tive muitas cantadas, mas
nunca tive envolvimento com passageiro. Uma coisa que senti e que li muito a
respeito é que no momento em que vestimos o uniforme, em qualquer profissão,
nos sentimos mais protegidos. Se for lidar com o público, o uniforme é como um
escudo de proteção para tudo.
Essa problemática toda, da imagem da
comissária, também existe por que nos últimos anos se viu muitas moças
abandonarem o seu cuidado com a aparência pessoal. Em alguns casos, as mais
velhas estão se cuidando mais, porque a competição está muito grande. A novinha
não precisa nem de maquiagem porque está de cara lisinha. Isso em qualquer
lugar. Então, a mais antiga tem que se produzir mais e se tornar mais charmosa.
A causa disso tudo foi a quantidade de gente nova que entrou para a aviação.
Houve um tempo em que as mais antigas relaxaram, engordaram, não cuidavam do
cabelo.
A empresa precisa exigir esse
cuidado com a imagem. A gente costumava dizer: “A imagem da comissária é a
imagem da empresa”. Quando ela estiver à paisana pode andar como quiser.
Uniformizada ela representa a empresa. Nos pernoites também, ela está sendo
paga. Tudo isso precisa ser conscientizado, com palestras e orientação. Mas
tudo isso foi abandonado nestes últimos anos. Quando entrei na Panair, e mesmo
na Varig, tudo era muito diferente. As pessoas, em qualquer profissão, precisam
de regras e orientação.
Discriminação
Posso
dizer que fui até muito invejada. Tive vizinhas que me viam sair com as malas,
bem arrumada, e diziam: “Isso é que é vida!”. Elas viam só a parte bonita da
profissão, não viam o outro lado. Mas para elas o que existe é o “charme” de
sair sempre arrumada, sempre sorridente e atenciosa.
A figura do Comandante
Eu sempre vi no comandante uma
pessoa que merece respeito porque ele tem uma responsabilidade muito grande
dentro do avião. Mas há comandantes e comandantes. Ele pode ser tecnicamente
maravilhoso e socialmente nem tanto. E a gente não pode julgá-lo por isso. O
principal é que ele nos transporte com segurança. Sempre tive bom
relacionamento com todos eles e sempre fui tratada com muito respeito.
Vi casos de comissárias que se
envolveram com comandantes. Em qualquer ambiente de trabalho, onde há
relacionamento humano, isso acaba acontecendo. Nós passamos muito tempo juntos,
passamos dificuldades juntos e isso nos aproxima uns dos outros. Se alguém
passa mal no pernoite você socorre, ajuda. Se a pessoa tem problemas familiares
ela desabafa e você passa horas escutando. A chance de aproximação é bem maior,
mesmo que seja só uma questão de amizade. Pensando bem, é uma profissão que nos
permite ter uma riqueza em termos de relacionamento. É um lado muito bonito e
muito bom da profissão.
Muitas vezes é difícil para o
pessoal de terra entender esse relacionamento que temos com os colegas do voo.
Numa hora difícil, podemos dispor daquele tempo para ficar escutando alguém,
sem conhecer ninguém da família dele, e sendo totalmente neutros na escuta. A
confiança que podemos depositar uns nos outros é grande e isso aconteceu muito
comigo. Eu escutei muitas histórias trágicas e depois não vi mais a pessoa.
Sempre aprendemos com isso. Vemos uma pessoa e não imaginamos que, por trás do
semblante risonho, ela pode estar vivendo um grande drama.
Situações de emergência
Tive uma, ainda na Panair, no tempo
do Constellation. Eu era bem nova e estávamos voltando de Belém quando tivemos
pane hidráulica. Era uma situação em que o flap não abaixava - o trem de
pouso não abaixava. No antigo Constellation tinha um lugar no chão do corredor
do avião que tinha uma tampinha onde tinha uma manivela que a gente ficava
rodando para os flaps abaixarem manualmente. Aquilo criava um susto enorme nos
passageiros. Como convencê-los de que estava tudo tranquilo e normal? Isso
aconteceu uma vez. Mas conseguimos transmitir tanta segurança para eles que
acabamos tendo problemas.
Na hora de pousar o avião, o trem de
pouso não baixou e o comandante teve que fazer uma volta e todo o flap recolheu
novamente e nós tivemos muito pouco tempo para fazer todo o procedimento de
novo. Tivemos que usar muita força e fizemos revezamento entre os colegas.
Finalmente conseguimos baixar o flap e o trem de pouso baixou.
Mas na hora da confusão foi difícil
conseguir que os passageiros se sentassem e afivelassem os cintos. Enquanto
isso, o aeroporto do Galeão estava interditado, só aguardando o nosso avião
pousar, pois não sabiam o que ia acontecer. Depois do pouso, o avião saiu da
pista.
Num outro voo, tivemos um princípio
de fogo no trem de pouso em Lisboa. O fogo foi apagado em terra, depois do
pouso. Em outra situação, chegando a Nova York, passamos por um furacão. Foi um tumulto a bordo, ninguém sabia o que
estava acontecendo e o problema não aparecia no radar. Os comissários com as
bandejas caindo em cima dos passageiros, as jarras caindo em cima de todo
mundo, os passageiros gritando a bordo. A sujeira se espalhou pelo avião e
ninguém quis mais nada, só ficaram em pânico, assustados.
Também em Nova York, uma vez, a
gente foi pousar com nevoeiro e o avião pousou fora da pista, bateu com as
turbinas no chão, o trem de pouso entrou no avião, foi muito ruim. Nesses casos
todos ninguém se machucou, foi só o susto. Todo mundo ficou branco como cera e
na hora de levantar nem as pernas queriam sair da cadeira. Mas eu sou uma
pessoa com muita sorte.
Questões de saúde
Com base nos exames e check-ups que
foram feitos, para minha sorte, ao sair da aviação, eu estava inteira. Não
tenho absolutamente problema nenhum. Então, eu considero que a pessoa pode se
proteger e que a saúde depende dela. A nossa profissão realmente afeta a saúde,
mas vai depender de cada um, tirando o fato de a pessoa ter algum problema no
organismo que independe da profissão.
Normalmente, quando se entra para a
aviação estamos saudáveis. Então vai depender de cada pessoa. Se levar uma vida
regrada, quando está em terra, se se alimentar e descansar adequadamente e
praticar algum tipo de esporte, não terá problemas. É importantíssimo para quem
trabalha na aviação cuidar de sua saúde. Eu cheguei inteira no último voo.
Agora, estou entrando na academia
novamente. Nesses anos todos, em que morei em Los Angeles, frequentei o Sports Connection. Praticava natação,
musculação, alongamento. Caminhava muito na beira da praia e nunca abri mão de
fazer isso, mesmo no inverno ou com chuva. É muito importante a gente fazer o
voo e não chegar dolorida no final da viagem. Com a musculatura em forma, a
gente aguenta levantar coisas mais pesadas.
É
preciso dormir na hora que tem sono e comer na hora que tem fome. Respeitar o
que o corpo quer, sempre que possível. Evitar entrar no fuso horário dos outros
lugares. Nesses anos todos, em Los Angeles, o fuso horário nunca foi problema
para mim. Nos pernoites, acordava de madrugada e sempre tinha coisa para ler,
bordar e comer. E, às vezes, nem acordava de madrugada. Já estava preparada...
Eu chegava em Los Angeles e acordava
às seis horas da manhã. Às oito horas já estava abrindo o escritório. E teve
época em que eu fiz Curso de Informática em Long Beach. Saía do escritório,
pegava o carro e ia até lá fazer o curso, à noite. Voltava perto de uma hora da
manhã e ainda cumpria a escala de voo. Seis meses de informática. Depende da
pessoa se programar.
Imagem negativa
Tenho lembrança de uma imagem
negativa: ver funcionários antigos saindo muito insatisfeitos com a empresa e
serem maltratados na hora de se aposentar. Foram tão desconsiderados depois de
trabalhar tantos anos e com tanta dedicação! As pessoas estavam saindo muito
magoadas e levavam essa mágoa consigo. Talvez, depois de algum tempo, essa
mágoa se apague e as lembranças alegres de tudo o que fizeram e viveram, volte.
Isso aconteceu nos meus últimos tempos de Varig.
Percebi que todo mundo estava muito nervoso,
por causa da fase que estava sendo vivenciada na empresa. A gente começa a
desculpar e a esquecer, mas o exemplo dado aos mais novos não vai se apagar tão
cedo. Eles viram o que foi feito com aqueles comissários antigos, que saíram
depois de 30 anos de trabalho e de luta em favor da empresa e do nome da
empresa. Eles viram e sabem que se arriscam a serem tratados da mesma forma na
hora de sair. Eles viram a mágoa dos comissários antigos, que choraram dentro
do avião. Isso os mais jovens vão guardar dentro deles e já não vão mais dar
tudo de si pela empresa. Eles vão dar o que a lei determina, o que é obrigação,
e nada mais. Esse foi o pior exemplo que aconteceu e que eu testemunhei dentro
da empresa.
Último voo
O meu último voo foi normal. Só eu
sabia que era o último. Não falei para ninguém, mas muitos suspeitavam que
fosse o último, pois eu estava para me aposentar. No pernoite cada um chega e tem
sua programação, por isso não quis perturbar a programação de ninguém. Na volta
é que resolvi tirar fotografias para a posteridade. Aí eles desconfiaram e eu
falei: “É verdade, um dia a gente acaba se aposentando”. Mas eu fiz o meu
trabalho e participei de todo o serviço.
A
despedida ficou bem definida quando nós pousamos em São Paulo. Era a primeira
vez que eu voava com aquele comandante e quando nós estávamos chegando a São
Paulo, com o avião taxiando perto do gate, depois que eu fiz todos os
anúncios de bordo aos passageiros, ele começou a falar. O tempo estava bom e eu
até falei para o colega do lado: “O que será que está acontecendo? Por que será
que ele está falando numa hora dessas?”. E, de repente, ele começou a falar
para todos os passageiros que era o meu último voo, o tempo que eu tinha voado etc.
Todos os passageiros aplaudiram e na
hora da despedida eles largavam a bagagem e me davam a mão ou me abraçavam e me
desejavam boas coisas. O desembarque não acabava e a turma me deixou lá
sozinha. O pessoal do despacho de passageiros já estava aflito com a demora do
desembarque sem entender porque os passageiros estavam fazendo aquilo. E depois
do desembarque os colegas ainda fizeram uma reuniãozinha. Foi muito bonito,
muito bom!
O comandante daquele voo me fez uma
linda homenagem. E eu falei para eles que eu estava muito feliz e que desejava
para todos eles uma despedida de voo como a que eu estava recebendo. Eu estava
saindo feliz, depois de ter voado todos esses anos e ainda inteira para começar
uma nova etapa de minha vida. Levava muitas recordações boas. As ruins sempre
acontecem na vida das pessoas, mas a gente vai esquecendo. Eu desejava a todos
muitos voos maravilhosos.
Estava feliz por ter tido uma
profissão maravilhosa. Se fosse começar faria tudo de novo e recomendaria a
qualquer pessoa. Cada pessoa nasce com objetivos e prioridades diferentes. Eu
sempre fui uma pessoa muito curiosa, gostava de saber como os outros viviam,
nos outros lugares, como era a vida deles, como resolviam os problemas e ia
aprendendo com tudo o que via. A aviação me deu essa chance.
O bom é que temos o AERUS. Sem ele não dá para
imaginar o que seria de nossa vida após a aposentadoria. Trabalhamos numa
profissão que, graças a Deus, tem suplementação de aposentadoria. É duro
enquanto a gente está pagando, mas depois compensa. Vale a pena o sacrifício,
pois não dá para imaginar viver apenas com o que paga o INSS.
Minha despedida foi muito boa. Foi muito
emocionante! Como Chefe de Equipe, no final da carreira, eram poucas as pessoas
que eu conhecia dentro do avião. Foi ao mesmo tempo muito bom, pois tive chance
de conhecer pessoas muito novas, que não me conheciam e que foram muito
agradáveis comigo. Foram respeitosas e procuraram saber como tinha sido a minha
vida na aviação. Foram muito gentis. No meio da turma nova tem gente
maravilhosa, pessoas carinhosas, pessoas ótimas!
Pós-aposentadoria
Eu
sou muito rápida e objetiva. Sempre fui assim. No dia seguinte, após meu último
voo, todos os meus uniformes da Varig já estavam lavados e dentro de um
“shopping bag”. Só faltava o uniforme do último voo e no dia posterior eu devolvi
todo o material à empresa. O funcionário lá da seção de uniformes ficou até
emocionado. Ele me pediu para assinar a folha de recebimento e nem quis
conferir as peças que eu estava devolvendo.
De imediato eu tinha muitas coisas
para organizar porque, além de ficar muito tempo fora do Brasil, tive um
procurador que cuidou das minhas coisas. Tinha que examinar toda essa
documentação de anos e anos que estava guardada. Ele cuidou de tudo como se
fosse dele. Nessa época eu também estava me mudando, tinha comprado outro
apartamento. E ainda estava procurando entender como as coisas funcionavam por
aqui. Muita coisa tinha mudado e muitas coisas estavam melhores.
Até agora, um ano e um mês depois de
me aposentar, eu não consegui parar. Tem tanta coisa para fazer que não sobra
tempo nem para sentar e ler um livro. Quando a gente está voando, a gente vai
deixando muita coisa de lado, pois sabe que não vai dar para fazer. Minha
primeira opção sempre foi a aviação e outra coisa que me ajudou muito nesses
anos todos foi o fato de ser uma pessoa muito organizada. As minhas coisas
nunca ficaram para trás. Isso já era uma característica minha. Eu tinha planos,
pé no chão, então as coisas sempre funcionavam. Não abriria mão da vida que
tive e faria tudo de novo.
Planos para o futuro
No momento ainda estou dando um
tempo para me situar e saber realmente o que quero fazer. Estou pesquisando.
Estou frequentando uma academia e fazendo aula de desenho e pintura. Comecei
depois que me aposentei. A professora está até surpresa. Ela achou que eu já
tinha aprendido antes. Tenho facilidade, até para minha surpresa. Sempre que
posso, treino muito em casa.
Não estou livre porque
aceitei ser síndica e então há muita coisa para fazer, principalmente porque o
edifício é novo. Resolvi fazer as coisas funcionarem como acho que deve ser.
Tive a felicidade de ter o apoio de todos na reunião em que me escolheram,
quando disse o que pretendia fazer: “Não vou recolher dez ou vinte reais a cada
semana, vou querer dinheiro para fazer tudo o que precisa ser feito porque me
aposentei para descansar e não vou querer ficar o resto do tempo fazendo
trabalhos aqui”. Todos aprovaram e me deram carta branca para cobrar cota extra
sempre que fosse necessário. E eu botei uma cota-extra bem alta. E ninguém reclamou.
Pagaram pontualmente e está tudo funcionando.
É um edifício pequeno. São apenas
seis aptos. As ideias que trouxe do que vi na América estou aplicando. Eles
estão achando muito bom. A dificuldade é com o orçamento dos empregados,
mão-de-obra e preços de materiais que são absurdos. Isso me tomou muito tempo.
Estou lá com os pedreiros dentro do edifício, fazendo o que quero que façam.
As coisas vão aparecendo
naturalmente. Quando menos esperamos já estamos envolvidos com outra coisa. De
repente é preciso dizer: “Agora vou parar tudo, pois quero viajar”. Não quero
viajar com frequência. Quero ter novamente um ritmo de vida que me permita
acordar de manhã, tomar o café com tranquilidade e dormir todo dia na minha
cama. Quero encontrar os amigos e conversar com eles. Se está chovendo, posso
decidir não sair, ficar arrumando as coisas dentro de casa. Hoje o dia está
maravilhoso, vou sair, fazer isso ou aquilo, vou para São Paulo, para Porto
Alegre, para Curitiba. Acordar, tomar café com calma, cuidar das plantas, ler o
jornal e depois ver o que fazer no resto do dia. Isso é uma coisa maravilhosa!
Artes plásticas
Falta do que fazer é uma situação
que não vivo. Eu até disse: “Qualquer hora vou pedir férias! Já avisei o
pessoal do edifício que no mês de março do ano que vem não vou mais ser
síndica. Estou aposentada, quero descansar, tenho as minhas coisas para fazer”.
Quero fazer desenho, escultura, cerâmica, fazer a sequência toda, mas começar
do princípio, só que está indo muito rápido. A professora acha que estou indo
depressa demais.
Agora mesmo, faz uma semana, estive
em Los Angeles. Fiquei lá uns 20 dias e visitei muitas galerias e olhei tudo o
que estão fazendo, quais os materiais que estão usando. Nós, aqui no Brasil,
temos bons materiais e com bom preço. Então não trouxe quase nada de lá. Levei
os preços daqui e pude constatar. E o nosso material é excelente, vem da
França, Alemanha, Tchecoslováquia. Vale a pena comprar no exterior se a pessoa
for a Londres ou a Paris e comprar diretamente do fornecedor. Do contrário, não
precisa viajar para comprar esses materiais.
*Ella (pseudônimo)
aposentou-se em 1995, aos 55 anos, com 31 anos de voo. Esta entrevista foi
concedida em 1996, no Rio de Janeiro.
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