Resultado da PESQUISA (Parte1)
(Respostas ao Questionário - 1995)
Registro aqui o resultado da pesquisa, com as informações das Comissárias de Voo que responderam ao questionário distribuído em 1995. Naquela data, o número de comissárias em atividade, por empresa, era: Varig – 1750, Vasp – 500, Transbrasil – 370, Rio-Sul - 300. (Infelizmente, para a grande maioria das comissárias que participaram com suas respostas e para muitos usuários dos transportes aéreos, essas empresas não existem mais.)
Também entrei em contato com a Gerência de Comissários da TAM e da
Pantanal, mas essas empresas não autorizaram a distribuição dos questionários
entre as suas comissárias. Na Varig, apesar de não ter recebido apoio direto da
Gerência de Comissários, os questionários foram distribuídos nos Despachos
Operacionais (local onde os tripulantes se apresentavam para o trabalho) dos
aeroportos internacionais de São Paulo e do Rio de Janeiro e durante os voos
nos quais eu fazia parte da tripulação.
Sou muito grata à Maria Luiza (GIGHV) e Arlete (GRUHV), sempre muito
gentis e eficientes, que me ajudaram na distribuição dos questionários nos
setores de Documentação dos Comissários. Também contei com a ajuda da ACVAR
(Associação dos Comissários da Varig).
Na Vasp, Transbrasil e Rio-Sul, as próprias chefias se encarregaram de
fazer a distribuição, mas até hoje me pergunto se aqueles quilos de folhas
impressas foram realmente entregues às Comissárias. O retorno dos questionários
dessas empresas foi pequeno. Outro aspecto a considerar é que a maioria das
comissárias que respondeu à pesquisa tinha pouco tempo de voo, ou seja, ainda
não conhecia bem a profissão – esse “outro lado” que só nós conhecemos.
I – Local de Nascimento
A pergunta nº 1, do questionário distribuído às Comissárias de Voo em
1995, referia-se ao local de nascimento.
O maior número de respostas veio das colegas que nasceram no estado do
Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, Niterói, São Gonçalo, Nova Friburgo, Barra do
Piraí, Resende, Volta Redonda e Bom Jesus de Itabapoana).
Em 2º lugar, das Comissárias que nasceram no estado de São Paulo (São
Paulo, Campinas, Santos, Osasco, Bauru, Restinga, Ribeirão Pires, São Borja do
Campo, Assis, Apiaí, Santo André, Caraguatatuba, São Bernardo do Campo, São
José do Rio Preto).
Em 3º lugar, das Comissárias que nasceram no estado do Rio Grande do
Sul (Porto Alegre, Caxias do Sul, Santa Maria, Pelotas, Lajeado, Tramandaí,
Santo Antonio da Patrulha, São Borja, Ivoti, Rolante, Santa Cruz do Sul,
Canoas, Uruguaiana, Santiago, Erechim, Passo Fundo e Veranópolis).
Depois, na sequência decrescente: Santa Catarina (Florianópolis, Itajaí
e Blumenau); Paraná (Curitiba, Cidade Gaúcha, Arapongas e Assaí); Minas Gerais
(Belo Horizonte e Ituiutaba); Brasília; Maceió (Alagoas); Pernambuco (Recife);
Maranhão (Riachão); Amazonas (Manaus).
Recebi, também, resposta de três Comissárias que nasceram no
estrangeiro: Espanha, Hungria e Taiwan.
Por empresa, o retorno mais expressivo de questionários veio das Comissárias
da Varig, depois, em número bem menor, Rio-Sul, Transbrasil e Vasp.
II – Idade
Na Varig, as Comissárias de todas as faixas etárias (20, 30, 40 e 50 anos)
responderam ao questionário, com uma concentração maior nas faixas de 30 e 40
anos.
Na empresa aérea Rio-Sul, apenas as faixas de 20 e 30 anos
responderam, com uma concentração maior na faixa dos 20 anos.
Na Transbrasil e na Vasp, as comissárias das faixas de 20, 30 e
40 anos responderam, com um ligeiro predomínio de respostas na faixa dos 30
anos.
III – Nível de Instrução
Na Varig e na Transbrasil, mais de 50% tinham o nível superior
completo. Na Rio-Sul, em torno de 40%; na Vasp, em torno de 30%.
IV – Estado Civil
Na Varig, das Comissárias que responderam ao
questionário, mais de 60% eram casadas; as solteiras ficavam em torno de 30% e
as divorciadas em torno de 10%.
Na Rio-Sul, as solteiras eram maioria.
Na Vasp, mais de 50% eram solteiras, 25% divorciadas
e 15% casadas. Na Transbrasil, 40% eram casadas, 30% divorciadas e 30%
solteiras.
V – Tempo de voo
Na Varig, das Comissárias que responderam ao questionário, as mais novas tinham
02 anos de voo e as duas mais antigas tinham 33 e 34 anos de voo. A maior
concentração estava em torno de 08 anos, 15 anos, 09 anos, e 10 anos de voo,
consecutivamente.
Na Rio-Sul, a mais nova tinha 01 mês de voo e a mais antiga tinha 10 anos; sendo
que a maioria tinha menos de 02 anos.
Na Vasp, a mais nova tinha 02 meses de voo e a mais antiga 20 anos; sendo que
a maioria tinha menos de 09 anos.
Na Transbrasil, a mais nova tinha 01 ano e a mais antiga 23
anos; sendo que a maioria tinha mais de 06 anos de voo.
VI – Conhecimento de Idiomas
Na Varig, 98% das Comissárias que responderam ao questionário falavam pelo
menos um idioma estrangeiro, 2% não falavam nenhum, ou tinham noções de inglês.
Do total, 50% falavam dois idiomas, 20% falavam três idiomas, 5% falavam quatro
idiomas e 1% falava cinco idiomas. Idiomas mais falados: inglês, espanhol,
francês, alemão, italiano.
Na Vasp, 80% falavam pelo menos um idioma. Deste total, 20% falavam dois
idiomas e 0,8% falavam três idiomas. Mais falados: inglês e francês.
Na Transbrasil, 80% falavam pelo menos um idioma. Deste
total, 20% falavam dois idiomas. Mais falados: inglês, italiano, espanhol.
Na Rio-Sul, 70% falavam pelo menos um idioma. Deste total, 35% falavam dois
idiomas. Mais falados: inglês, italiano, espanhol.
VII – Primeiro emprego
Das Comissárias de Voo que responderam aos questionários, as atividades
mais comuns como primeiro emprego foram: em 1º lugar, a própria atividade de
comissária de voo; em 2º lugar, o magistério; em 3º lugar, o secretariado.
Seguindo, em ordem decrescente: recepcionista, bancária, auxiliar de
escritório, vendedora, guia de turismo, desenhista, telefonista, tradutora e
intérprete, revisora, instrumentadora, terapeuta ocupacional, repórter,
manequim.
VIII – Escolha
da profissão
As razões mais comuns, que
levaram as jovens à escolha da profissão de Comissária de Voo, em ordem
decrescente, foram: fascínio pela profissão, vontade de fazer algo diferente,
gostar de viajar e trabalhar com o público, viajar e conhecer lugares e pessoas
diferentes, melhor remuneração e gostar de viajar, gostar de viajar e ampliar
os horizontes, boa oportunidade de trabalho, influência de familiares,
influência de amigos, independência financeira, para ter mais liberdade, por
curiosidade e por acaso.
IX – Curso de Comissários
As lembranças e impressões relacionadas ao período do Curso de
Comissários têm a ver com o rito de passagem, o antes e o depois de entrar para
a aviação. As Comissárias mais antigas foram contratadas pelas empresas aéreas
em uma época em que o curso e a hospedagem das candidatas (oriundas de
diferentes cidades e estados brasileiros) eram totalmente custeados pelas
empresas contratantes.
Dentro de uma mesma empresa, cada candidata, de acordo com seu perfil
sociocultural e temperamento, teve sua experiência e guarda impressões
particulares. As Comissárias mais novas, com menos tempo de voo, tiveram
experiências diferenciadas, pois estudaram em escolas de aviação particulares,
desvinculadas das empresas aéreas e tiveram que custear seus cursos.
Na Varig, a empresa pioneira em contratar mulheres como Comissárias, durante
muitos anos, os cursos foram realizados na Escola de Comissários do Rio de
Janeiro. As jovens candidatas eram selecionadas a partir da capital do estado
em que moravam e recebiam uma passagem de avião até o Rio de Janeiro, onde
teriam hospedagem e ajuda de custo, além do curso e toda a preparação para os
exames de habilitação no Departamento de Aeronáutica Civil. A partir da década
de 1980, com a instituição dos Centros de Treinamentos de Comissários (CTC), os
cursos passaram a ser realizados também em São Paulo.
Nas respostas dos questionários, os adjetivos ótimo e muito
bom foram muito usados. Bom, divertido, eficiente, interessante,
difícil, terrível, muito desgastante, dinâmico, estranho, entediante, tenso,
chato, rígido, condicionador, constrangedor, estressante, também foram
usados e mostram a diversidade dos perfis das alunas comissárias.
As Comissárias mais antigas, que fizeram o curso sob a direção de Alice
Clausz, relembram detalhes daquela época. Outras falam de suas impressões e
sentimentos diante das novidades:
1- Foi muito bom, mas foi
bastante difícil para mim devido à minha pouca convivência com pessoas de
cidade grande. Saí do interior com bastante garra, disciplina, vontade de
aprender e vencer. E no primeiro dia do curso fui escolhida pela dirigente da
Escola de Comissários para ser a “Xerife” da turma. Então começou o meu
“calvário”, com cobranças sem fim. Tudo era responsabilidade minha: a colega
sem batom, de meia rasgada ou sem distintivo... A dirigente não me dava folga e
me fazia cobrança em cima do lance. Ela também ligava para nossa casa de
hospedagem e me criticava pela maneira como eu falava ao telefone (eu não tinha
o hábito de falar ao telefone!). Eu entrava em pânico com a rigidez com que era
tratada e achava muito injusto. Só hoje percebo o quanto isto era necessário e
o quanto me ajudou. Depois do curso tudo ficou menos tenso e fácil. Posso dizer
que foi muito válido e lamento que hoje não seja mais assim. (46 anos, 23
de voo)
2- A memória mais marcante é a de minha constante descoberta do
quanto eu não sabia nada sobre aquele mundo que se abria diante de mim! Era tão
distante das minhas expectativas de menina calada de cidade pequena! (46
anos, 24 de voo)
3- Foi muito bom apesar do rigor. E foi esse rigor que me valeu como
fundamento para a minha conduta profissional até os dias atuais. (45 anos,
22 de voo)
4- Foi muito diferente porque eu nunca tinha saído do Rio Grande do
Sul e um pouco difícil devido à ausência de minha família e o medo da cidade
grande. (40 anos, 20 de voo)
5- Tive dois cursinhos: o primeiro foi na Braniff Internacional (um
mês em Dallas, vivendo um conto de fadas, que perdurou nos dois anos em que a
Companhia durou); tudo era novidade e encantamento. O segundo foi na Varig, com
três semanas de reciclagem, pois a turma era toda da Braniff. Aí o encantamento
acabou e o trabalho começou. (41 anos, 15 de voo)
6- Qualquer erro ou falha cometidos, era motivo para ameaça de
demissão, como se o melhor trabalho no mundo fosse o da Varig. Em todas as
turmas sempre tinha alguém que era demitido. (41anos, 15 de voo)
7- Foi muito gratificante e cheio de novidades. Tive conhecimento de
muitas coisas que nem sabia que existiam, mas que seriam importantes para uma
comissária de voo. (38 anos, 15 de voo)
8- Na Transbrasil o período
de formação foi uma mistura de poesia e diversão. Proporcionou-me conhecimentos
que me serviram para a profissão e para a vida. E na Varig, onde me foram
repassados apenas parte dos conhecimentos que eu já tinha, valeu apenas pela diversão.
Gosto de estudar e a cumplicidade de um grupo reunido numa sala de aula por
mais de um mês, deixa sempre lembranças inesquecíveis. (35 anos, 9 de voo)
9- Interessante, mas o espírito da turma era um pouco “infantil”,
como uma volta às aulas no tempo do ginásio. E isso não era só referente aos
alunos. (35 anos, 8 de voo)
10- Para mim foi um tanto assustador: cidade nova, pessoas novas,
muita expectativa em relação à nova vida, saudades da família, exigências sem
fim por parte da empresa. Isso foi em 1986. Hoje as coisas estão mais racionais.
(31anos, 9 de voo)
11- O período do cursinho foi estranho, a começar pelo fato de eu
nunca ter viajado de avião e ter tido que me deslocar para o Rio de Janeiro,
onde morei três meses no último andar de um hotel (velho, faltando água,
colchão torto e com cheiro de cachorro molhado) onde ficamos hospedadas.
Embarquei de São Paulo para o Rio às seis horas da manhã, em um Electra, com as
demais colegas de curso (todas com experiência em andar de avião). Eu não quis
demonstrar o meu desconhecimento, mas não deu. Na hora do desembarque tive que
pedir ao executivo que estava sentado ao meu lado para me ajudar a abrir o
cinto de segurança! (30 anos, 10 de voo)
12- Foi divertido! Na época eu tinha 21 anos e tudo era novidade:
meu primeiro emprego, morar numa cidade grande como São Paulo e dividir
apartamento com amigas. Houve um determinado momento no curso em que me senti
muito imersa num só mundo: o da aviação.
Percebi isso quando fui assistir a uma peça de teatro depois de tanto
tempo só estudando para ser comissária. (30 anos, 9 de voo)
13- Fiz o curso no Rio, o que não chegou a modificar muito minha
rotina, pois não tive que me mudar para São Paulo, como a maioria era obrigada
a fazer. Quanto ao curso, tudo era novidade e a expectativa em relação ao
trabalho, muito grande. Mas depois de algum tempo, parando para analisar
melhor, éramos tratados como se fôssemos crianças dentro de uma espécie de
“regime militar”. (29 anos, 8 de voo)
Na Rio-Sul, as Comissárias, mais jovens, tiveram experiências diferentes. Já não
eram os cursos de sete semanas (com carga horária intensiva) patrocinados pelas
empresas de aviação. Eram cursos de cinco a sete meses, ministrados por escolas
de aviação particulares, em diferentes turnos, possibilitando que as jovens
candidatas continuassem trabalhando e assim custeassem seus estudos. Foram
poucas as que responderam sobre este item:
1- Foi difícil estudar,
pagar o curso e trabalhar durante o dia. (31anos, 6 de voo)
2- Foi um período difícil, de ilusões, certezas e incertezas.
(31 anos, 4 de voo)
3- Foram cinco meses de curso muito bem ministrado, onde procuravam
nos conscientizar sobre a profissão. (26 anos, dois de voo)
Na Transbrasil, as Comissárias com mais tempo de voo, que
responderam aos questionários, fizeram pouca referência aos cursos ministrados
pela própria empresa, em Brasília e no Rio de Janeiro. As mais novas fizeram o
curso em escolas de aviação particulares:
1- Fiz o curso em Brasília, ministrado pela empresa. Teve aquele gostinho
dos anos rebeldes, com os jovens buscando novas opções de vida. (35 anos,
13 de voo)
2- Foi um curso de dois meses e meio, ministrado por funcionários e
comissários da própria Transbrasil. Foi bem difícil e corrido. Durante três
meses ficamos hospedados num hotel no Rio de Janeiro. Uma experiência nova para
mim. (32 anos, 10 de voo)
3- Adaptei-me perfeitamente. Era uma das melhores alunas do curso.
(31anos, 6 de voo)
4- Custeei todo o curso sozinha, pois o meu pai não me apoiou.
Mergulhei de cabeça e tirei todo o proveito que pude. Hoje, posso dizer que
todas as coisas que nos ensinaram serviram muito. Foi uma época ótima, onde
tudo era novo e bom. A escola deixou a desejar em alguns aspectos, mas valeu!
(24 anos, três de voo)
5- Cansativo, mas bastante instrutivo, em todos os sentidos. (21
anos, 1 de voo)
Na Vasp, embora não representando a maioria na empresa, pois o retorno dos
questionários foi inexpressivo, as respostas das Comissárias não expressam
lembranças significativas do curso que realizaram. Poucas escreveram alguma
coisa além do tempo de duração do curso:
1- Na época, a Vasp dava o cursinho e foi lá que me formei. (43
anos de voo, 17 de voo)
2- Passei pelo curso de formação na Transbrasil, o qual deixou muito
a desejar. (40 anos, 12 de voo)
3- Foi muito proveitoso, deu para termos uma boa noção do que era a
profissão, mas depois vimos que a realidade era diferente. (31 anos, 9 de
voo)
4- Fiz o curso em escola de
aviação, em São Paulo. O curso foi bom, mas não dava para saber como era realmente
a profissão. (24 anos, 4 de voo)
5- Estudei em escola de
aviação particular. Na época eu estava trabalhando numa empresa de engenharia
(primeiro emprego) e pagava o curso com o todo o meu salário! (22anos, 2
meses de voo)
X – Adaptação à nova vida
As Comissárias falam de suas experiências de adaptação ao
novo estilo de vida. Deixaram a vida convencional de lado e passaram a viver no
mundo das viagens aéreas, onde os horários de trabalho seguem outras regras
(sem hora certa para dormir, acordar, se alimentar, etc.). A adaptação a uma
nova vida é sempre um desafio e nem todas estão preparadas para tantas mudanças
e tantas novidades. Oriundas de lugares e culturas diferentes, cada uma tinha
seu modo de ser, pensar e sentir. Por isso as experiências eram diferenciadas e
algumas encontraram mais dificuldades que outras.
As respostas aqui registradas seguem a ordem das
anteriores: são classificadas por empresas e iniciam-se com as Comissárias mais
velhas. Assim podemos fazer uma segunda leitura, seguindo a linha do tempo e
captando as mudanças nas diversas gerações ou fases de vida.
Na Varig, as respostas das Comissárias
mostram uma ampla diversidade de adaptação à nova vida na aviação. Em ordem
decrescente, os termos qualitativos mais usados foram: Difícil, boa, fácil.
Depois, num nível médio, os termos foram: normal, ótima, muito boa, muito
difícil. Por fim, os termos menos usados: tranquila, diferente, devagar,
insatisfatória, desgastante.
A seguir, os comentários descritivos das experiências vividas
nesse período de adaptação ao voo e à vida na aviação:
1- Com exceção do frio que passei, porque vim do
Maranhão, foi tudo bem porque morava com minha irmã e meu cunhado. (54
anos, 33 de voo)
2- A minha adaptação foi lenta, por ser a primeira vez
que fiquei longe de minha família. No trabalho, a disciplina era rígida, talvez
porque vivêssemos na época da ditadura militar. A empresa não permitia que nos
casássemos, nem que tivéssemos filhos. (49 anos, 25 de voo)
3- Foi muito difícil, principalmente voar à noite, ter
que trabalhar na hora em que tínhamos sono e dormir em poltrona na hora do
nosso descanso. Isso refletiu muito no meu sistema nervoso. (46 anos, 16 de
voo)
4- Foi muito difícil, emagreci oito quilos nos dois
primeiros meses de voo e recebi um ultimato: ou ganhava peso ou seria demitida.
Minha mãe ficou comigo dois meses para que eu pudesse continuar na aviação e
estar respondendo a este questionário. (45 anos, 22 de voo)
5- Adaptei-me muito bem porque fui morar com cinco
colegas e estava sempre rodeada de companhia, mas sentia muita saudade da minha
família. (40 anos, 20 de voo)
6- Foi difícil, pois eu já tinha uma filha. (42
anos, 16 de voo).
7- Fui me ajustando aos pouquinhos. Não me casei, mas
vivo com um homem que é compreensivo e admira a minha profissão. (42 anos,
14 de voo)
8- Foi mais fácil do que durante o cursinho. Fomos para
a base de São Paulo e passamos a ser tratadas como profissionais. Mas não foi
tão fácil. (41 anos, 15 de voo)
9- Levei dois anos para me adaptar a essa vida. Depois
disso é que passei a aproveitar meus dias de folga, usufruir dos pernoites com
passeios e diversão. (38 anos, 15 de voo)
10- Fácil em alguns aspectos, considerando meu
temperamento bastante independente; um pouco difícil considerando a minha pouca
idade (18 anos) e inexperiência. (37 anos, 19 de voo)
11- Extremamente difícil! Os primeiros seis meses foram
de muita instabilidade emocional. Longe de casa, da família e dos amigos, numa
cidade como São Paulo eu me sentia perdida no mundo. (37 anos, 16 de voo)
12- Fácil no início por causa do deslumbramento. Depois
me dei conta de que tinha que abrir mão de muitas coisas. (37 anos, 15 de
voo)
13- Ótima, pois eu era solteira e sem compromissos.
(36 anos, 15 de voo)
14- Ótima! O problema era conciliar a faculdade com os
voos. (35 anos, 16 de voo)
15- Difícil! Senti-me jogada na profissão. A realidade
era completamente diferente da imagem vendida no cursinho pela empresa. (35
anos, 15 de voo)
16- Fácil! Já trabalhava em dias feriados e períodos
noturnos; não tinha compromissos familiares, marido, filhos ou namorado.
(35 anos, 9 de voo)
17- Os voos me
surpreenderam: muito cansaço, novas maneiras de me relacionar com as pessoas,
não se podia criticar nada em relação à empresa ou à maneira como nos tratavam.
(35 anos, 9 de voo)
18- Difícil, no início, pois eu era casada e
inexperiente. Tinha 21 anos, sentia muita insegurança e solidão ao deixar o lar
e os amigos. Vivia deprimida e muitas vezes me perguntava se valia a pena o
preço que pagava por esse ir e vir com gosto de liberdade, com possibilidades
de ver o mundo. Meus valores mudaram e a distância do lar e dos amigos me fez
ver o que era mais importante para nós, seres humanos. Valeu e está valendo.
(33 anos, 13 de voo)
19- Difícil! Horários alternados, mudanças bruscas de
climas, gripes. (32 anos, 9 de voo)
20- Fácil, pois chegou junto com a independência.
(31 anos, 9 de voo)
21- Demorou um pouco, principalmente em termos
econômicos. Durante muito tempo tive que morar com outras pessoas, muitas vezes
em situações incômodas. (31 anos, 9 de voo)
22- Foi difícil, para mim e outros colegas. Ser “novato”
na empresa significava ser “debiloide”. Era assim que nos tratavam. O assédio
sexual dos colegas e passageiros era intenso; os baixos salários nos obrigavam
a morar em bandos. Éramos nivelados por baixo e voar nas linhas nacionais foi
horrível! Senti muita solidão nos pernoites. Ao chegar em casa, só queria
dormir. E chorava muito. (31 anos, 8 de voo)
23- Tive problemas com a “liberdade”. Não sabia lidar
muito bem com isso. (30 anos, 10 de voo)
24- A adaptação foi mais difícil para meus familiares,
amigos e namorado, devido à fama negativa da profissão: “um amor em cada
aeroporto”. Mas isso não é verdade, inclusive por causa do cansaço físico e
emocional que é constante. (30 anos, 10 de voo)
25- Boa! Adaptei-me bem, pois não era muito enraizada na
minha cidade natal. Tudo o que eu queria era ser independente, livre e
emancipada. Não queria nada que me prendesse nem lugares nem a pessoas. (30
anos, 9 de voo)
26- Foi muito
difícil. Tive que dividir apartamento com três garotas, o espaço físico era
pequeno e nós éramos muito diferentes uma das outras. Tinha vivido apenas com a
minha família e conviver com pessoas estranhas, inclusive nas tripulações, me
deixava com a sensação de não ter raízes. Até hoje eu percebo isso como algo
negativo. É gente nova demais, lugares novos demais. Ficamos tentando nos
adaptar a cada momento, como se nunca tivesse um porto seguro. O ser humano
precisa de vínculos fortes para internalizar segurança. A personalidade do
tripulante tem que ser muito forte. Temos que ter boa aparência física,
cordialidade, como se a vida fosse sempre “cor de rosa”, ter um sorriso pronto
e ser solícito sempre. Muitas vezes usamos máscaras para nos adaptar ao social,
mas precisamos ter nosso tempo e espaço para nos sentirmos pessoas autênticas
como: fazer cara feia quando estamos tristes, deixar o cabelo desalinhado, ser
espontâneos, dar boas gargalhadas. (30 anos, oito de voo)
27- Foi fácil para mim, pois sou filha de engenheiro de
voo e acostumada a viajar desde que nasci. (29 anos, 8 de voo)
38- Foi difícil e não posso acreditar que tenha sido
fácil para alguém. (28 anos, 9 de voo)
28- No começo foi uma festa, porque vim do interior. Mas
depois de alguns anos ficou muito complicado porque a minha vida social é bem
restrita. (27 anos, 6 de voo).
29- No começo tudo era novidade, mas com o tempo as
coisas foram ficando difíceis. Sinto-me muito só, com dificuldades de conciliar
vida particular com vida social. (24 anos, 5 de voo)
Na Rio-Sul, as respostas das Comissárias
mostram que para muitas a adaptação foi difícil. Para outras, em ordem
decrescente, a adaptação foi ótima, boa, fácil, agitada. Eis alguns
comentários:
1- Os primeiros meses foram difíceis, com saudades e falta
da família. (33 anos, 10 de voo)
2- Foi boa! Era a realização de um sonho e eu estava
literalmente no céu! (31 anos, 6 de voo)
3- Foi agitada, com muita ansiedade e deslumbramento por
estar vivendo em um mundo muito diferente. (31 anos, 4 de voo)
4- Foi ótima porque era uma coisa desejada há muito
tempo, além de eu estar plenamente ciente dos prós e contras do trabalho.
(26 anos, 2 de voo)
5- Acredito que ainda estou em adaptação. Para mim o
difícil é o descanso, pois procuro conciliar duas profissões: comissária de voo
e médica veterinária. Quase não tenho tempo para descansar. Espero que , aos
poucos, tudo se encaixe. (25 anos, 4 meses de voo)
6- Difícil porque deixei toda a minha família no Rio de
Janeiro e vim atrás do meu sonho. Mas não me arrependo! (21 anos, 4 meses
de voo)
7- Ótima! Melhor impossível! (21 anos, 1 mês de voo)
8- Não tive dificuldades, pois já sabia como era a vida
de uma comissária de voo. (20 anos, 4 meses de voo)
Na Transbrasil, as respostas das Comissárias
mostram que muitas tiveram uma adaptação muito boa, enquanto que uma
parcela um pouco menor teve uma adaptação difícil. Eis alguns
comentários:
1- Com relação ao trabalho, não tive grandes problemas.
Mas quando chegava à pensão, eu sentia muitas saudades da minha terra. (43
anos, 16 de voo)
2- Foi bem agitada. O que mais eu senti foi que não te
dão esse tempo de adaptação. Parece que você tem a obrigação de se adaptar do
dia para a noite. (42 anos, 16 de voo)
3- Os primeiros anos foram os mais difíceis, mas também
os mais divertidos. A família ficou longe, mas sempre dando apoio. (36
anos, 9 de voo)
4- Foi muito boa. No começo estranhei as noites
acordadas, mas logo me apaixonei pelo meu trabalho e pela nova vida. (36
anos, 8 de voo)
5- Adorei tudo, apesar do cansaço, porque havia muita
camaradagem. (35 anos, 13 de voo)
6- Não foi difícil porque era tudo novo. Morar longe de
casa, com outras pessoas, e viajar, era muito atraente. (32 anos, 10 de
voo)
7- Foi difícil. Não estava acostumada a ficar tanto
tempo fora de casa. Emagreci e fiquei doente. Não estava acostumada a lidar com
tantas pessoas diferentes. (31 anos, 6 de voo)
8- Foi normal. Mas não conseguia dominar o sono que
sentia; era incontrolável. (24 anos, 3 de voo)
Na Vasp, as respostas das Comissárias
mostram que a adaptação foi ótima e boa para algumas e difícil
para a maioria. Eis alguns comentários:
1- Foi ótima, pois quando ingressei na carreira, era
solteira e sem compromissos. Depois, com a família, tudo ficou diferente.
(40 anos, 16 de voo)
2- Foi boa, tudo era novidade e eu fiquei deslumbrada.
Com o tempo e com a distância, os amigos se afastaram e a solidão começa a
tomar conta da gente. (31 anos, 9 de voo)
4- Foi difícil, pois desde o começo meu marido não me
incentivou. (24 anos, quatro de voo)
5- Foi ótima
aqui na Vasp. Mas foi bem difícil na TAM, onde comecei a voar e me decepcionei
um pouco. (22 anos, 2 meses de voo)
XI – Experiências
marcantes...
Experiências marcantes estão sempre presentes no início da
vida profissional das Comissárias de Voo. Afinal, durante muito tempo, essa
profissão foi o sonho da maioria das jovens, por oferecer uma vida de viagens,
com possibilidades de ampliar os horizontes culturais, viver com mais liberdade
e independência.
As respostas aqui registradas seguem a ordem das
anteriores: são classificadas por empresas e iniciam-se com as comissárias mais
velhas. Assim podemos fazer uma segunda leitura, seguindo a linha do tempo e
captando as mudanças nas diversas gerações ou fases da vida:
Na Varig, onde o retorno dos
questionários foi expressivo, são variados os relatos de experiências
marcantes:
1- A primeira viagem: foi uma sensação maravilhosa! Tudo
era novidade, os lugares, as pessoas. (52 anos, 34 de voo)
2- A sensação de iniciar um tipo de responsabilidade
diferente daquela que eu exercia no magistério. (51 anos, 25 de voo)
3- Observar a diversidade dos lugares, das pessoas e, ao
mesmo tempo, a similaridade essencial. O espírito de grupo das tripulações,
naqueles voos com vários pernoites. A união de pessoas tão diferenciadas, que
pareciam velhos conhecidos, me impressionava sobremaneira. (46 anos, 24 de
voo)
4- No início, quase tudo é marcante: o primeiro voo, o
primeiro comandante, os primeiros colegas de voo, as primeiras cantadas, as
primeiras paixões, as recordações dos passageiros! Livros com dedicatórias... Tenho um poema
feito a bordo para mim por um padre, que guardo até hoje. (46 anos, 23 de
voo)
5- A oportunidade de conhecer lugares que em uma vida
“normal” não me seria possível. O fato de não poder dormir na hora que
sentia sono. (46 anos, 16 de voo)
6- A mais marcante foi aprender a administrar a minha
própria vida, pessoal, profissional e material. (45 anos, 22 anos de voo)
7- O elogio de um passageiro, no meu terceiro voo,
enviado para a diretoria, diretamente por ele. (44 anos, 20 de voo)
8- A proximidade com os passageiros, num tempo e espaço
muito pequenos. (42 anos, 21 de voo)
9- O fato de lidar com pessoas de diferentes
nacionalidades e culturas. (42 anos, 14 de voo)
10- Foram muitas!
As viagens, os encontros, as coincidências, o encantamento geral... Os dois
primeiros anos de aviação foram extremamente marcantes e, talvez, o que mais me
impressionou foi a minha primeira viagem a Bali em 1989. Foram 45 dias em que
atravessei fronteiras dimensionais - foi impressionante e foi também o motivo
pelo qual embarquei na Varig nove meses após o fechamento da Braniff. Só que
levei dez anos para voltar a Bali.
(41 anos, 15 de voo)
11- Experiência negativa: O terrorismo de uma chefia
(base São Paulo) sem autonomia. Experiência positiva: o relacionamento com
colegas de voo e passageiros, como compensação. (41 anos, 15 de voo)
12- O desafio de um mundo novo; o desafio de um grande
amor. E, profissionalmente, o desafio de ser uma “comissária exemplar”. (40
anos, 20 de voo)
13- Convívio com diferentes tipos de personalidade;
conflitos de colegas e passageiros. (40 anos, 19 de voo)
14- Foi em um voo para Porto Alegre, em que todos saíram
do hotel para visitar familiares e, de repente, me vi totalmente sozinha. Hoje
o “sozinha” não me incomoda mais. (40 anos, 15 de voo)
15- Naquela época, havia muito sonho, muita poesia! Tudo
me marcou de uma maneira bem positiva. As tripulações de pernoite eram super
unidas, talvez, justamente por esses anseios de esperanças e sonhos! Ah! esses
sonhos da gente, foram eles que tornaram tudo mais fácil! (39 anos, 19 de
voo)
16- Foi no início da aviação que fiz boas amizades, que
duram até hoje; que conheci grande parte do meu país e tomei conhecimento real
da profissão que escolhi. (38 anos,
15 de voo)
17- Nunca tinha viajado antes e quando comecei na
aviação pude perceber o quanto o Brasil era grande e miscigenado. Como era
bonito e ao mesmo tempo pobre! (38 anos, 11 de voo)
18- O mais interessante foi conhecer novos lugares. Um
grande amor vivido nessa fase também, quando conheci um passageiro no segundo
mês de voo. Ele vivia em Recife e ficou sendo meu noivo por um curto mas
intenso período. Nós tínhamos pelo menos dois voos para lá, com pernoite, todo
mês. Foi a experiência mais marcante, no início. (37 anos, 19 de voo)
19- No início,
pensei que ia morrer de tanto enjoo que tinha. Fora as brincadeiras de alguns
colegas, o que recordo foi de um pernoite em Foz do Iguaçu, onde um colega da
tripulação técnica passou duas horas batendo na porta do meu quarto, de
madrugada. Batia e se escondia, até que
o comandante e o chefe de equipe o trancaram no quarto. (37 anos, 16 de
voo)
20- Tudo parecia um sonho: os lugares antes impossíveis
de se ir e agora tudo ali, na minha frente. (37 anos, 15 de voo)
21- Estar em lugares que jamais imaginei, devido à minha
origem humilde. (37 anos, 15 de voo)
22- Foi a sensação de liberdade e independência, indo e
voltando, para muitos lugares. Além de fazer um grande número de novos amigos.
(37 anos, 15 de voo)
23- Trabalhar com tantas pessoas, a correria para
conseguir atender a todos os passageiros e fazer parte de um grupo tão
heterogêneo. (37 anos, 13 de voo)
24- Ficamos baseados 15 dias em Curitiba. Foi uma
experiência muito boa em termos de amizade e coleguismo, mas as saudades foram
grandes também. (37 anos, 12 de voo)
25- O feedback do passageiro, ao desembarcar e dizer
coisas agradáveis sobre o voo, sobre o serviço, sobre a tripulação. Ou quando
ele retorna e reconhece você no voo e faz questão de cumprimentar e fazer-lhe
lembrar daquele voo que fez com você.
(37 anos, 11 de voo)
26- Sentia muito enjoo com as turbulências e não gostava
da instrutora que me acompanhou nos primeiros voos. Talvez isso foi o que mais
marcou além, é claro, dos agradáveis pernoites em hotéis cinco estrelas e as
praias do nordeste que até então eu não conhecia. (37 anos, 10 de voo)
27- Aprender a me relacionar com pessoas de diferentes
culturas e educação. (36 anos, 15 de voo)
28- Chocada (e ainda fico) com a quantidade de bebidas
alcóolicas ingeridas pelos passageiros. Voando nas linhas nacionais, por cinco
anos vivi os dissabores de conviver com alcoolizados por horas a fio.
Experiências muito tristes de lembrar. (35 anos, 15 de voo)
29- Não me lembro de experiências marcantes no início.
Mas da grande solidariedade que havia entre os membros da Transbrasil. Ao
entrar na Varig, a surpresa de perceber o separatismo entre setores e funções e
a displicência e divisão errônea de responsabilidades. (35 anos, 9 de voo)
30- O que mais
me marcou foi a questão da moradia, ao dividir o apartamento (de um quarto e
sala, em Copacabana) com três colegas. O que mais havia no apartamento eram
malas. Quatro mulheres vindas do Rio Grande do Sul, com suas malas mais as
malas da Varig! Quase não havia espaço para circulação, por isso adorávamos
pernoitar! (35 anos, 9 de voo)
31- O fato de descobrir como o interior e o norte do
nosso país é pobre e subdesenvolvido. Que é real a vida de “coronelismo” no
nordeste e as diferenças dentro do país. Antes eu via isso como folclore e
fiquei impressionada. (34 anos, 8 de voo)
32- O conhecimento de novos lugares, de novas pessoas e,
especialmente, de um grande amor, que conheci durante um voo para o norte do
Brasil. (34 anos, 8 de voo)
33- Descobrir que nossa sensibilidade ficou mais
aguçada. Descobrir que somos tão
importantes na profissão que escolhemos. (33 anos, 13 de voo)
34- Panes, enjoos, turbulências fortes e separação da
família nos pernoites. (33 anos, 4 de voo)
35- Falta de horário para as nossas refeições; o
relacionamento profissional e a competição. (32 anos, 10 de voo)
36- Colegas “sacanas”, passageiros grosseiros, pilotos
tarados. Não tenho lembranças boas. Minha instrução a bordo foi falha e paguei
caro por isso. Recebi uma carta de advertência com dois meses de voo. Senti que
as mulheres eram (e são) muito mais cobradas do que os homens. Não podia ser
mais eu mesma, me expor com naturalidade. Os homens, principalmente os da
tripulação técnica, me pareciam vazios. E havia coisas que não podíamos dizer
ou fazer... A sexualidade era controladíssima, você podia “pegar fama”. Em
Porto Alegre eu era bem mais livre, podia escolher meus parceiros e transar sem
culpas. Na aviação, sexo é quase sempre
um jogo e muitas vezes fui um troféu.
Isso é horrível quando você está carente, confunde as coisas e não
consegue enxergar com clareza ou não consegue imaginar porque alguém iria fazer
“teatro” só para “ganhar” você. Senti-me em um ambiente anos 50, de muito
controle. No voo, a sua vida profissional se mistura com a pessoal, porque ao
terminar o trabalho você ainda está em um hotel pago pela empresa junto com
seus colegas. (31 anos, 8 de voo)
37- A experiência mais marcante foi a simplicidade de um
casal camponês, que se deslocava para o enterro de um familiar e, ao
oferecer-lhes a refeição, rejeitaram alegando não terem dinheiro para pagar,
pois gastaram tudo com a compra das passagens, apesar de estarem com muita
fome. Eles não sabiam que a comida era grátis. Isso me conscientizou de que avião
não é mais luxo, é um meio rápido de transporte. (30 anos, 10 de voo)
38- A instrução
para usar os equipamentos de emergência foi traumatizante. Sofri muito, pois
alguns instrutores estavam preocupados em “assustar” como se fosse a coisa mais
difícil do mundo. Senti-me muito mal, pois fui maltratada por alguns. Por pouco
não desisti da profissão. (30 anos, 7 de voo)
39- Com três meses de voo, o painel da cabine de comando
do Electra acusou que o trem de pouso estava travado. Tivemos que preparar a
cabine para um pouso de emergência, o que não chegou a acontecer, pois era
somente um defeito no painel. (29 anos, 8 de voo)
40- O primeiro voo foi bem agradável, pois fui bem
recebida por todos os colegas. Outra experiência foi a primeira vez que passei
mal em um pernoite e a Chefe de Equipe do voo me ajudou muito. (29 anos, 5
de voo)
41- As experiências mais marcantes tinham a ver com a
magia de voar. Sou apaixonada pela beleza natural do nosso país, por essa
geografia linda. O pôr do sol, a lua cheia, os vales, as montanhas, os
rios... Achei fascinante atravessar a
Cordilheira dos Andes, conhecer as Pirâmides, conhecer o Louvre, o Mar
Mediterrâneo... e outros encantos internacionais que nos falam da cultura e da
história de inúmeros povos que compõem a história do mundo. Não posso deixar de
mencionar as experiências com pessoas: umas extravagantes, outras
inteligentíssimas, outras simpáticas, lindas, engraçadas que passam pela nossa
vida diariamente. Em termos de experiência voltada para acidente, nenhuma. Apenas ameaça de bomba a bordo. (28 anos, 8 de voo)
42- Foi gratificante poder visitar e conhecer lugares
que antes eu só conhecia através dos livros. Lembro-me da emoção de conhecer as
Cataratas de Foz do Iguaçu. Cheguei a chorar. (27 anos, 8 de voo)
43- Toda a formalidade da aviação, o uniforme, os
pernoites e o serviço em si que eu continuo achando lindo. (27 anos, 6 de
voo)
44- Conviver com a fantasia de muitos colegas, que
acreditam que são muito por serem aeronautas e, ao mesmo tempo, não se dão o
valor. Acham que valem pelo uniforme, pelo cargo. Isso era confuso na minha
cabeça. E o fato de verem a comissária como prostituta também me chocou. (27
anos, 4 de voo)
45- Meu primeiro
voo foi na inauguração da linha para Hong Kong. Para quem trabalhava pela
primeira vez no avião, servir jornalistas, deputados, senadores, num clima
tenso até para os mais antigos, foi muito interessante. Participei do jantar
mais “chique” de minha vida, aliás, foi praticamente uma semana de festas ao
lado da imprensa e do Rubel Thomas.
Fomos homenageados em todo lugar. Para mim, foi um privilégio! Nunca me
esquecerei disso. (24 anos, 2 de voo)
Na Rio-Sul, algumas Comissárias assim se
expressaram sobre as experiências mais marcantes no início da vida
profissional:
1- Vestir o uniforme, carregar a mala e as pessoas
olharem para você como se você fosse um objeto estranho, diferente das pessoas
comuns. (31 anos, 4 de voo)
2- Quando o avião decolou, no meu primeiro dia de
trabalho, e quando fui liberada da minha instrução: minha instrutora fez um
relatório bastante favorável a meu respeito, dizendo que eu era uma comissária
nata. Isso me marcou muito! (25 anos, 4 meses de voo)
3- Morar sozinha longe de tudo e de todos numa cidade
fria e estranha e no meio de pessoas dos mais diferentes tipos. (24 anos, 4
meses de voo)
4- O primeiro voo (que foi ótimo) e quando perdi as
bodas de prata dos meus pais por estar voando e não ter conseguido trocar o voo
com ninguém. Acho que foi o meu dia mais triste na aviação, pois nós já
estávamos programando essa festa há mais ou menos um ano, e no final acabei não
podendo ir. (21 anos, 4 meses de voo)
6- Um voo com uma senhora de 86 anos esclerosada que se
desesperava nos pousos e decolagens. (20 anos, 2 meses de voo)
7- Como estou há pouco tempo na profissão, não tenho
ainda uma experiência marcante a não ser uma pequena turbulência no primeiro
voo. (20 anos, 4 meses de voo)
8- Quando uma criança não se sentiu bem e eu pude
auxiliá-la, mas foi apenas um caso comum de indisposição. (19 anos e 5 meses
de voo)
Na Vasp:
1- Estar em contato com outras pessoas, conhecer lugares
diferentes, se sentir dona do próprio nariz. (43 anos, 17 de voo)
2- As férias com passagens com desconto para o exterior.
(38 anos, 20 de voo)
3- A dificuldade de locomoção porque eu morava no
litoral e precisava viajar de ônibus enfrentando trânsito nos finais de semana
e feriados prolongados, com uma escala de seis dias de trabalho por um de
folga. Ficava cerca de seis horas em casa. (31 anos, 10 de voo)
4- Eu era muito ingênua e pura de coração. Achava que
todas as pessoas eram minhas amigas, daí a decepção. São poucas as pessoas
amigas na aviação. (31 anos, 9 de voo)
5- A maneira
hostil como alguns responsáveis pelo ensino e pela chefia tratam os novatos. A
falta de compreensão de alguns colegas antigos. (23 anos e 2 meses de voo)
6- Uma turbulência de céu claro no segundo voo me
assustou bastante e eu nunca mais esqueci. (22 anos e 2 meses de voo)
7- Uma pane, no Brasília (Embraer-120) da Rio Sul. Eu
tinha 19 anos e estava sozinha no voo com a responsabilidade de controlar o
pânico de 30 pessoas. (20 anos, 1 de voo)
Na Transbrasil:
1- No terceiro dia de voo, um passageiro roubou minha
mala e nunca devolveu. (43 anos, 16 de voo)
2- Experiência negativa: A falta de compreensão da
chefia e da empresa de que a nossa profissão é muito diferente. Experiências
positivas foram muitas. (42 anos, 16 de voo)
3- A adaptação às normas e padrões de serviços foram
muito marcantes. (36 anos, 9 de voo)
4- As viagens, o relacionamento com pessoas diferentes,
os lugares, tudo. (36 anos, 9 de voo)
5- Morar sozinha numa cidade diferente e procurar me
adaptar sem a família. (32 anos, 10 de voo)
6- Foi quando cheguei pela primeira vez em Fortaleza e
falei para mim mesma: Se não fosse pela aviação, teria que esperar mais
alguns anos para estar aqui! (24 anos, 4 de voo)
(continua)
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