segunda-feira, 16 de junho de 2014

Resultado da PESQUISA (Parte2)

Resultado da PESQUISA (Parte2)
(Respostas ao Questionário - 1995)


XII – Acidente a bordo
Quem é tripulante de uma aeronave deve estar sempre preparado para enfrentar uma situação de emergência. Acidentes acontecem independentemente de nossa vontade e quando menos esperamos. Os Comissários recebem um intenso treinamento para lidar com essas situações, pois suas funções a bordo estão intrinsicamente relacionadas com a segurança e o conforto dos passageiros durante a viagem, incluindo os dois momentos mais cruciais que são a decolagem e o pouso.
Os procedimentos, em caso de emergência, são constantemente revistos e rememorados. Felizmente, a maioria desses profissionais nunca precisou atuar em circunstancias de extrema dificuldade. Os pequenos acidentes e incidentes são mais comuns no cotidiano dos tripulantes.
Na Varig, 82% das Comissárias que responderam ao questionário afirmaram nunca ter tido qualquer acidente ou vivido uma situação de emergência. 18% das Comissárias já tinham vivenciado momentos de preocupação e dificuldades. Do total, 20% já tinham tido pequenos acidentes e incidentes:
1- Já levei tombos, já tive pequenos cortes nos dedos.
2- Já passei por uma fortíssima turbulência na qual me machuquei e fiquei fora de voo por uns 15 dias.
3- Acidentes sérios não, somente pequenas queimaduras nos fornos da “galley”.
4- Queimadura com café fervendo e dedo preso na escorregadeira.
5- Cortei o dedo com uma faca e tive uma despressurização de cabine.
6- A gaveta de gelo caiu em cima do meu pé, fraturando-o.
7- Apenas queimaduras leves, pequenos cortes e contusões.
8- Sim, pousei sem o trem de pouso.
9- Sim. Panes durante o voo, com pânico a bordo e brigas entre passageiros.
10- Sim. Passageiro bêbado que caiu e quebrou as costelas. O voo era de São Paulo a Nova York, tivemos que pousar em Manaus para removê-lo.
11- Devido a uma forte turbulência, durante o serviço de jantar, as bandejas foram parar no corredor do avião.
12- Decepei uma parte do dedo da mão e quebrei o cotovelo direito, em turbulências.
13-Sim, um pouso sem freio mecânico.
14- Uma pane no ar condicionado e um “alerta” para uma despressurização que não houve.
15- Uma despressurização e eu estava grávida!
16- Sim, uma emergência na decolagem.
17- Dois pequenos acidentes. Num deles cortei a mão entre o polegar e o indicador, com uma garrafa de vidro que quebrou e recentemente me queimei na altura do peito com a torneira de um “boiler” que se soltou na minha mão.
18- Sim, fogo na turbina e pouso de barriga (sem trem de pouso).
19- Tive um susto no meu primeiro voo para Maputo. Na decolagem de Lagos para Maputo o avião começou a inclinar para os lados. Paramos o serviço que estava no início e chegamos a preparar a cabine para um pouso de emergência, o que graças a Deus não aconteceu.  Entretanto, tivemos que servir o almoço em solo e o atraso foi de mais de 8 horas esperando a peça do avião. Nenhum passageiro quis voltar ao aeroporto de Lagos porque tinham visto ratos e preferiram ficar no avião...  O resto dá para imaginar, não?!

Na Rio-Sul, 30% das Comissárias que responderam ao questionário afirmaram ter passado por situações difíceis, mas poucas acrescentaram informações sobre essas situações:
1- Sim, uma despressurização no B-727.
2- Princípio de pânico, devido ao superaquecimento da aeronave. Acredito que meu desempenho foi bom.
3- Um curto circuito a bordo, nos PSU’s, com pouso de emergência.

Na Vasp, 25% das Comissárias que responderam ao questionário afirmaram ter passado por situações difíceis, com acidentes e incidentes a bordo. Poucas descreveram essas situações:
1- O trem de pouso não abaixava e nos preparamos para pousar sem ele, mas era alarme falso. O pouso foi normal, mas como a cabine de passageiros foi preparada para um pouso de emergência, surgiram outros problemas. Foi num B-727, com 152 passageiros.
2- Sim, tivemos um início de despressurização; fogo no motor; perda de parte do “aileron” em voo.
3- Sim, tivemos passageiros necessitando de auxílio médico; brigas entre passageiros alcoolizados; brigas com passageiros que pleiteavam “upgrade” da classe econômica para a primeira classe, com galanterias exageradas.
4- Sim, um pneu estourou durante a decolagem.
Na Transbrasil, apenas 10% das Comissárias que responderam ao questionário afirmaram ter passado por situações difíceis a bordo, mas não descreveram essas situações.

 XIII – O que mais gosto...
O que uma Comissária de Voo mais gosta em sua profissão?
Neste item, deixamos de classificar de acordo com a empresa e a idade ou antiguidade na profissão. Essa questão é subjetiva e tem a ver com idealizações, sonhos, expectativas; e também com a consciência, a experiência e o confronto com a realidade. Eis as respostas das Comissárias que responderam este item:
1- Gosto muito de viajar para o exterior. Adoro chegar às cidades da Europa e dos Estados Unidos e sair, passear, fazer compras. Isto faz com que eu me sinta viva e respeitada. Gosto de passear no meio de pessoas civilizadas e de ver lugares bonitos, esbanjando cultura, sentir que eu também posso comprar coisas boas. Assim como gosto de atender bem às pessoas que viajam comigo e ver meus passageiros satisfeitos e tranquilos.
2- Gosto muito do que faço. Nem o passar dos anos nem as dificuldades para conciliar a vida familiar com o voo mudaram meu prazer de voar.
3- Gosto de servir o passageiro, relacionar-me bem com os colegas de voo, conhecer os lugares de pernoite, praticar os idiomas que estudei, conversar com passageiros e colegas.
4- Gosto da sensação de saber que o bem estar das pessoas que estão dentro do avião depende de mim. Gosto muito de vê-los saírem satisfeitos no final do voo.
5- Gosto de poder ser diretamente útil; o contato com diferentes pessoas e culturas; o acesso à maioria dos estados do nosso país e a tantos outros lugares do mundo. Isto sem dúvida amplia nosso universo e enriquece muito nossa vida.
6- Gosto do contato com pessoas dos mais variados níveis culturais. Ter a oportunidade de visitar lugares fora do meu domicílio, mesmo que muitas vezes correndo, por falta de tempo, e ainda sentindo o cansaço da viagem.
7- Gosto de ser útil na mais ampla acepção da palavra. E depois voltar com a consciência tranquila, por ter realizado um bom trabalho.
8- Gosto de não ter rotina, mas, às vezes, sinto uma imensa falta disso: comer na mesma hora, ver o noivo nos fins de semana, participar de encontros, congressos e cursos na minha área, participar das festinhas de aniversário dos familiares.
9- Gosto do conhecimento de outras culturas, que alargam minha visão do mundo. Esse é o meu maior ganho e o meu grande prazer de trabalhar na aviação
10- Gosto de conhecer lugares e pessoas de culturas diferentes; fazer novas amizades e observar como vivem as outras pessoas.
11- Gosto de ser cidadã do mundo, de poder conhecer os lugares, não como turista, mas ir repetidas vezes e ir descobrindo os detalhes (barzinhos, lojinhas, comidinhas).
12- Gosto da ausência de rotina e de estar “de repente” num lugar totalmente diferente da minha própria cidade.
13- Gosto da mudança de ares em momentos difíceis, o que nos dá o tempo necessário para colocar certas ideias no lugar.
14- Gosto de deixar para trás os problemas, trocar de ambiente, conversar com os colegas, ver coisas diferentes e voltar renovada.
15- Gosto dos baseamentos e a possibilidade de conviver com outras culturas tendo apoio da Companhia, o que representa um incentivo ao aprendizado de outros idiomas.
16- Gosto do tempo que tenho para ficar só. É quando eu paro e penso um pouco em mim e me abasteço interiormente.
17- Gosto do dinamismo do nosso trabalho, estar cada dia em um local, com tripulação e passageiros diferentes.
18- Adoro voar: ter a sensação física de estar fora do chão; sentir a mobilidade geográfica e a liberdade de ir e vir. 
19- Gosto da mobilidade que a profissão me proporciona, dos amigos que fiz pelo mundo e a possibilidade de, mesmo com dificuldades, estudar e ter outras atividades.
20- Gosto da liberdade e da possibilidade de estar com pessoas e culturas diferentes, de poder acrescentar à minha vida novos conhecimentos sobre História, Arte, Relações Humanas.
21- Gosto do relacionamento que tenho com as pessoas, o contato com o mundo e a experiência de vida que vou adquirindo.
22- Gosto de fazer voos com tripulação harmoniosa, segura, consciente e alegre. O trabalho fica menos cansativo e os pernoites são mais agradáveis.
23- Gosto da oportunidade de lidar com o público, gosto dos colegas. Tripulante é gente com um jogo de cintura impressionante! Não vejo isso em outras profissões.
24- Gosto de cuidar do bem-estar das pessoas, de viajar, rever amigos. Não ter que me despedir “para sempre”, quando algum amigo vai morar no estrangeiro, ou muda de país.
25- Gosto quando a escala é equilibrada e eu posso descansar quando chego de voo e ainda tenho tempo para curtir minha casa, dar atenção aos meus filhos e marido.  E, quando estou a trabalho em outros lugares, de ter tempo para sair, passear, fazer umas comprinhas e ler meus livros.
26- Gosto de lidar com pessoas que têm senso de humor, que são alegres e prestativas. Isto inclui passageiros e tripulantes.
27- Gosto de viajar e conhecer lugares e pessoas, mas é muito difícil conciliar esse meu prazer com as obrigações domésticas, principalmente em relação aos filhos. 
28- Gostava muito da sensação de estar um tempo em cada lugar.  Hoje não vejo a hora de me aposentar, para ter uma vida mais regrada, “normal”. Sinto que a minha família precisa de mim.
29- Atualmente estou muito desmotivada: excesso de horas de voo, pouca folga entre um voo e outro, salário baixo... Não consigo pensar em algo agradável em relação à profissão.

XIV – O que não gosto...
O que uma Comissária de voo menos gosta em sua profissão?
1- Não gosto do cansaço dos voos, do desgaste físico provocado pelas noites sem dormir, pela pressurização da cabine e o ar seco do avião, que geram uma carga extra de stress. 
2- Não gosto das alterações de saúde provocadas pelas variações de altitude, pressurização, mudanças climáticas constantes, diferenças de fuso horário. Somos obrigadas a ultrapassar os limites do corpo e só após uma doença como otite, sinusite ou qualquer outra já instalada no organismo é que somos afastadas das atividades. Um simples resfriado ou alergia respiratória, durante um voo longo pode desencadear essas doenças. Falta uma medicina preventiva, que afaste o tripulante antes de acontecer o pior.
3- Não gosto de ficar dentro de um avião por mais de 8 horas, sinto vontade de tirar as meias, trocar de roupa, tomar um banho...
4- Não gosto dos plantões, durante os voos internacionais noturnos, pois sinto muito sono. É o pior momento da viagem.
5- Não gosto de voo lotado, de embarque tumultuado, de passageiros mal-educados, de colegas mal humorados.
6- Não gosto da falta de respeito por parte dos passageiros; de lidar com pessoas ignorantes. Não gosto da mania que a chefia tem de achar que o passageiro sempre tem razão. 
7- Não gosto de passar as noites acordadas, nem acordar no meio da noite para voar.
8- Não gosto quando incomodo os colegas por apenas querer fazer bem o meu trabalho.
9- Não gosto do cansaço que sinto depois das longas jornadas de trabalho.
10- Não gosto do pouco tempo de repouso depois de fazer alguns voos internacionais, como o Miami e o Bogotá, para onde vamos e voltamos no mesmo dia! O cansaço é desumano!
11- Não gosto quando os voos são muito puxados e nos estressamos demais, levantando caixas pesadas, movimentando carros emperrados, aguentando passageiros e tripulantes técnicos mal humorados.
12- Não gosto de voos muito cansativos, do tipo bate-e-volta, “voo da missa” e voos com escalas, que cortam nosso tempo de descanso. Acho o intervalo para descanso a bordo fundamental nos voos longos e internacionais. 
13- Não gosto das atitudes pernósticas de alguns passageiros e da nossa vulnerabilidade perante a imprensa.
14- Não gosto de passageiro embriagado e tripulante de baixo astral. Sempre digo que não há voo ruim, o que existe é tripulação boa ou ruim, quando alguém estraga o clima do voo. 
15- Não gosto das conversas maldosas entre colegas, apesar de saber que isso existe em qualquer lugar ou profissão.  
16- Não gosto, muitas vezes, do ambiente de trabalho, da falta de solidariedade entre os colegas. Há muitos que são neuróticos e geniosos, tornam o voo cansativo sem razão de ser. Também não gosto da falta tempo para cursos, amizade e vida social. Sinto que, às vezes, não faço parte de nenhum meio, nem terrestre nem aéreo.
17- Não gosto da falta de punição aos faltosos, sendo todo o grupo penalizado em função do mau comportamento de uma minoria.
18- Não gosto da falta de reconhecimento profissional que sofre nosso grupo; da falta de respaldo da chefia e gerência; do salário baixo.
19- Não gosto da falta de respeito que sinto entre alguns colegas. Não gosto de ser sufocada por muitos chefes e me sentir desrespeitada com relação à regulamentação. Não gosto do desprezo pelos comissários de voo que vejo na chefia. Não gosto de fofocas, injustiças e de pessoas mal-educadas. Isso tudo é muito desgastante.   
20- Não gosto da distância que existe entre a vida que levamos quando estamos trabalhando e a nossa realidade particular
21- Não gosto do fato de não haver nesta profissão exigências intelectuais maiores. 
22- Não gosto quando a escala é apertada e tenho que viver só para a empresa como se fosse uma máquina, sem vida social nem afetiva, sem tempo para cuidar da saúde, sem me recuperar do cansaço das viagens. É assim que me sinto na empresa, como se eles achassem que podem me programar como se faz com um computador. Gosto da profissão, mas não gosto do descaso da empresa pelos funcionários e da falta de reconhecimento.
23- Não gosto dessas programações de voo absurdas, com tripulantes de São Paulo “voando de extra” para assumir voo no Rio e os do Rio “voando de extra” para assumir voo em São Paulo. Isso nos desgasta muito e gera custos desnecessários para a empresa. O mesmo problema se repete no final do voo quando estamos cansadas, passamos por nossa base e temos que prosseguir para depois voltar de extra. Parece que eles têm prazer em ficar nos jogando de um lado para o outro, em vez de fazer uma programação decente e eficiente para todos. Assim o nosso tempo se esvai e o nosso cansaço aumenta. Não há ser humano que aguente!
24- Não gosto de ser considerada um simples investimento que precisa dar lucro para a empresa. Deveriam pensar que somos humanos e temos família para cuidar e que muitas de nós voam descontentes, em função de escalas mal elaboradas, apresentações desnecessárias, no Rio (às vezes, de madrugada) sendo que o voo passará por São Paulo à tarde ou à noite.  Muitas vezes, após um voo longo, sou obrigada a fazer sucessivos “bate e volta”, e as folgas ficam muito truncadas, tornando impossível descansar o tempo necessário.
25- Não gosto de escalas de voo apertadas; de não poder passar os finais de semana e datas importantes com os familiares e amigos.
26- Não gosto do desgaste físico excessivo, principalmente sabendo que ele poderia ser amenizado com uma escala de voo melhor distribuída. 
27- Não gosto quando a escala fica muito apertada e as folgas são embutidas de forma que não se tem um descanso decente. Ou quando devemos ir para o Rio bem cedo, para depois voar à noite toda. Ou chegando de “voo da missa” para no outro dia fazer um voo para Buenos Aires bem cedo! Não gosto dos “voos da missa” porque são muito cansativos! 
28- Não gosto quando a escala é muito apertada e o cansaço físico fica insuportável e a gente não tem tempo para mais nada.
29- Não gosto da manipulação da escala em benefício de uma minoria gerando insatisfação no grupo.
30 Não gosto de escalas mal elaboradas, de ser acionada nas Reservas e Sobreavisos, de não receber as folgas solicitadas para minha confraternização familiar e social.
31- Não gosto de escala de voo injusta: quando é muito cansativa e não se tem tempo para a vida pessoal e social
32- Não gosto de ser acionada na reserva ou quando mudam minha programação publicada. 
33- Não gosto quando o pessoal da Escala não atende nossas solicitações de folgas e muda nossas programações publicadas.
34- Não gosto de lidar com o pessoal da escala, que considero de baixo nível. Misturam o profissional com o pessoal e não respeitam os tripulantes. A chefia é outro problema, pois não nos representa, é apenas um órgão punitivo.
35- Não gosto quando olho a escala e vejo uma “tranqueira”. A nossa profissão é boa e ainda fascina quem está fora dela. Mas quem está dentro sente no peito o quanto dói! Só não saio porque essa nossa experiência no mercado de trabalho tem pouco valor.
36- Não gosto do atraso na publicação da escala de voo e de não saber quando estarei de folga. Não gosto de não ter folga em feriados, fins de semanas, Natal, Ano Novo, de não ter vida social e familiar. Não gosto de depender da escala de voo para poder fazer as coisas que gosto.
37- Não gosto da falta de reconhecimento no trabalho realizado. Não gosto do fato de não ver (como em outras profissões que exerci) o resultado do meu esforço ou da minha criatividade. Nesta profissão de comissária de voo, praticamente não existe esse retorno. A falta de realização deixa essa sensação de vazio.
38- Não gosto da maneira como somos tratadas pela chefia. Ela não nos representa e parece que só funciona para punição e cobranças. É só mais um instrumento de coerção e controle, na empresa. Nosso “sorriso amarelo” é a arma que usamos para tudo, quando as coisas não funcionam dentro do avião e quando falta material para atender aos passageiros.
39- Não gosto da maneira desumana e injusta como nós, tripulantes, somos tratados pela empresa.  Desumana no sentido de voar muito e não ter tempo para mais nada a não ser viver para a empresa. Injusta no sentido de não ter uma assessoria ou alguém na empresa que possa nos ver como algo mais que uma matrícula
40- Não gosto da falta de respeito aos nossos limites físicos, emocionais e mentais. Nossos ciclos biológicos deveriam ser respeitados: os tripulantes que voam à noite, deveriam voar nesse turno mais tempo, para o organismo não ficar tão deficiente com as constantes mudanças. Quanto à alimentação, deveriam deixar os tripulantes escreverem suas dietas e essas serem embarcadas, pois cada um tem hábito alimentar particular. Ou pelo menos não deveriam embarcar alimentação tão condimentada. Quando estamos de reserva, deveriam nos instruir sobre os trajetos dos voos, dos locais de escalas e destinos. Assim passaríamos melhor o tempo e teríamos conversas mais saudáveis e instrutivas com os passageiros e com os colegas de voo.
41- Não gosto da falta de continuidade que temos na vida particular e da dificuldade para estudar e fazer outras coisas.
42- Não gosto da falta de vida social, da falta de relacionamento com amigos antigos, que já não nos chamam para festas, pois sabem que estamos sempre viajando.
43- Não gosto do fato de não ter mais vida social, de ficar pouco tempo com minha família, por estar voando demais
44- Não gosto de não ter dias certos de trabalho e de ficar muito tempo longe da família.
45- Não gosto de ser uma mãe ausente. Sinto falta de estar em casa quando é necessário e de ter mais tempo com meus filhos.
46- Não gosto quando somos mal interpretadas por estarmos impecavelmente arrumadas, distribuindo sorrisos e simpatia. Também não gosto de voos extremamente longos e a baixa remuneração. O que mais me entristece é saber que faço tudo isso e, no final do mês, fico decepcionada com o contracheque. Se hoje sou solteira e o que recebo mal dá para ter uma vida estável, o que será quando me casar e tiver filhos? Gostaria que a empresa nos desse mais valor, pois é com a nossa simpatia, com a nossa presença que, muitas vezes, um passageiro que foi indevidamente tratado, se acalma. As mulheres, em geral são muito mais detalhistas e caprichosas no trabalho. E, muitas de nós, somos mais corajosas e até assumimos papéis que não nos cabem.
47- Não gosto de saber que a nossa profissão tem desvantagens muito grandes para aquelas que são mães. Já ouvi uma colega mais antiga dizer: “A única coisa de que me arrependo é de não ter visto meus filhos crescerem”!  E aí não tem mais o que fazer, pois o tempo passou. Já ouvi colegas comentarem sobre a chantagem dos filhos que ficam aos cuidados da babá, não querendo tomar banho com a mãe e outras coisas mais. Creio que para uma criança deve ser difícil saber quem é a mãe se ela está tanto tempo fora e, muitas vezes, por dias... Algumas colegas falam que o filho chama a babá de mãe. Uma colega do Rio me contou que sua filha não estava bem e foram ao médico. Diagnóstico: “síndrome da comissária”. A mãe comprava frutas e verduras, mas a babá, com preguiça, jogava tudo fora e não cozinhava comida de sal. A menina estava com problemas no fígado.
48- Não gosto de ficar esperando além do normal por bagagem ou por quarto de hotel, quando chego cansada de um voo.
49- Não gosto de pernoitar em hotéis sujos, onde encontro baratas. Não ligo para luxo, só acho desagradável entrar num quarto e perceber que a limpeza foi “tapeada”. Já encontrei baratas na cama do hotel, na minha roupa, subindo no meu corpo. Estou ficando neurótica! Já mandei cartas para os gerentes de vários hotéis (principalmente no Nordeste do Brasil) e nada adiantou.
50- Não gosto da chegada ao Rio de Janeiro, depois de um voo internacional. Acho extremamente humilhante e cansativa a maneira como somos tratadas pela alfândega.
51- Não gosto de trabalhar em aviões descuidados, com entupimento de toaletes, luzes de leitura que não acendem, poltronas que não reclinam e material que falta na hora do serviço.
52- Não gosto da falta de manutenção das galleys, onde geladeiras não funcionam e muitas vezes não se tem água quente suficiente para um serviço de café da manhã. E quando falta material na hora de servir os passageiros.

XV – Realização profissional... e Atividades paralelas...
As Comissárias se sentem realizadas na profissão? Desenvolvem atividades paralelas? Gostariam de fazer outra coisa na vida?
Na Varig, 70% das Comissárias, principalmente as mais antigas, se diziam realizadas na profissão, enquanto que 30% se diziam insatisfeitas. 50% das Comissárias desempenhavam outras atividades. Das que justificaram, registro as respostas:
1- Sim, sinto-me realizada porque sempre dei o melhor de mim no trabalho. Com colegas e passageiros, tive a oportunidade de exercer várias profissões, entre elas: babá, enfermeira, psicóloga.  Também já desenvolvi outras atividades: aulas de dança, música, jardinagem. Já ganhei vários concursos de poesias e contos, com medalhas de ouro e bronze. Já participei de várias Antologias de contos e outros. Quando estou de folga continuo treinando meu corpo e minha mente. Não fico me concentrando para o próximo voo, ou seja, descanso depois do trabalho, não antes. (49 anos, 25 de voo)
2- Sim, sinto-me realizada. Nos primeiros anos de profissão, tentei me aperfeiçoar ao máximo: completei o curso de inglês, fiz pré-vestibular, cursei universidade (Faculdade de Planejamento Turístico) e estudei francês durante quatro anos. Gostaria de fazer alguns cursos que me permitissem exercer alguma atividade após a aposentadoria, o que deve ocorrer em quatro anos, mas algo sem grandes compromissos diários, tipo “freelance”.  (46 anos, 23 de voo)
3- Sinto-me mais acomodada do que realizada. Atualmente não estudo, apenas frequento, quando dá, uma academia de dança de salão e vou a alguns bailes. (46 anos, 16 de voo)
4- Sim, sou realizada como profissional. Não tenho atividade paralela porque a instabilidade da escala não me permite. Gostaria de fazer um curso de paisagismo para, mais tarde exercer essa atividade.  (43 anos, 17 de voo)
5- A vida do comissário é bem diferente e tem muitas fases.
No início, tirando as dificuldades de adaptação e moradia (principalmente para mim que vim do interior), eu achava tudo ótimo, tudo era festa! Posso dizer que naquela época eu me sentia realizada. Com o passar dos anos, as coisas mudam. Eu mudei e a empresa também mudou. Eu nunca desenvolvi atividade paralela. Hoje estou me questionando sobre isso. Na nossa profissão, não temos muito crescimento, não temos degraus para alcançar, é sempre a mesma coisa. Agora, chegando perto da aposentadoria, gostaria de ter outra atividade, que me permitisse estar mais presente em casa, com os amigos e familiares. Na hora das comemorações, estamos trabalhando. Na hora em que todos estão trabalhando, estamos em casa desocupados. (42 anos, 21 de voo)
6- Sinto-me realizada, mas não com a profissão, e sim como mulher e mãe. Não desenvolvo atividades profissionais paralelas porque a escala é apertada e não permite, mas faço ginástica e musculação. Falta tempo para maior dedicação aos filhos e à casa. Também gostaria de ter mais tempo para me dedicar à leitura e a coisas bem simples, como arrumar gavetas, ou poder ficar deitada numa rede relaxando, sem ter que cronometrar o meu dia-a-dia.  (42 anos, 18 de voo)
7- Sim, sinto-me independente e realizada na profissão que exerço. Tenho atividades paralelas: sou presidente de uma sociedade protetora de animais no RJ. Antes eu trabalhava filantropicamente com hansenianos (leprosos), deficientes físicos (excepcionais) e menores favelados. Gostaria de fazer muito mais para a conscientização dos seres humanos, mas o dia tem apenas 24 horas...  (42 anos, 15 de voo)
8- Não me sinto realizada, pois é um trabalho muito mecânico, que não permite criatividade e pode ser executado por qualquer pessoa. Não desenvolvo atividades paralelas, pois tenho uma filha pequena e um marido aos quais dedico todo o meu tempo livre. Gostaria e muito de fazer outra coisa, mas o quê?  Não tenho vocação para nada e considero os outros trabalhos mais escravizantes ainda. (42 anos, 15 de voo)
9- Ainda não me sinto realizada. Falta ganhar dinheiro para comprar um imóvel, ou seja, a minha independência. Hoje em dia, quanto mais se trabalha, menos se ganha. O salário é irrisório e não dá tempo para desenvolver outra atividade. As folgas são insuficientes para se restabelecer do cansaço de uma jornada de 15 ou mais horas de trabalho. Sim, gostaria de ter um negócio próprio, uma lojinha, um restaurante... (42 anos, 14 de voo)
10- Não me sinto realizada. Entrei para a aviação aos 30 anos porque estava desempregada e me falaram que era algo sólido. Com meu trabalho e o do meu marido consegui “subir” na vida e me estabilizei economicamente. Não temos filhos.  Atualmente não tenho tanta energia para trabalhar. Acho a escala desumana e corrupta.  A da internacional deveria ter mais folgas que a da nacional e a das mulheres deveria ser um pouco mais folgada que a dos homens. Desejo muito ter outra atividade e não desejo me aposentar na aviação. (42 anos, 12 de voo)
11- Sinto-me um pouco infeliz porque não existe uma regra clara e definida para promoções. Nunca fui chamada para ser supervisora e, no entanto, as minhas colegas de turma, baseadas em São Paulo, já são supervisoras há mais de sete anos. E outros comissários mais novos também. Sem fazer testes. Gostaria muito de fazer outras coisas, mas a nossa vida é muito difícil. Começo a fazer e não consigo terminar, mesmo assim vou continuar tentando... (41 anos, 19 anos)
12- Sim, sinto-me realizada desde que voltei a exercer a medicina, há mais ou menos quatro anos. No meu caso, uma atividade completa a outra e a realização é plena. Só há um problema: preciso de mais tempo! (41 anos, 15 anos)
13- Não me sinto realizada. A aviação serviu para mostrar que não era o que eu queria. Eu só gosto do que os pernoites podem proporcionar, culturalmente. É um acréscimo na minha vida. A aviação serviu também para que eu “corresse por fora”, buscando outra coisa para fazer, para ganhar o pão de cada dia. O salário é incompatível com o que a empresa exige de nós: não temos voz ativa a bordo, os superiores hierárquicos anulam o nosso profissionalismo, os passageiros despejam seu mau humor e falta de educação em cima de nós... É estressante! Os tripulantes técnicos nos tratam como empregadas domésticas deles. E temos medo até de sair de férias porque, quando voltamos, ficamos devendo dinheiro para a empresa. Que emprego é esse? Isso sem falar nas vendas de “Duty free”, que somos obrigados a fazer, vendendo para uma empresa que não assina nossa carteira de trabalho nem sequer nos paga salário?!  (40 anos, 21 de voo)
14- Sim, sinto-me realizada. Não desenvolvo atividade paralela, mas gostaria de fazer outra coisa, apenas para garantir a minha aposentadoria, pois com o salário de INSS acho que vou morrer de fome.  (40 anos, 18 de voo)
15- Sim, estou completamente realizada. Minhas atividades paralelas estão relacionadas a estudos místicos, com muita leitura a respeito (Messiânica, Rosa Cruz). Há ainda a costura, a pintura, a decoração, a ginástica. Não pretendo fazer outra coisa por hora.  (39 anos, 19 de voo)
16- Sinto-me realizada por ter podido exercer esta profissão, mas falta uma atividade intelectual. Leio muito, interesso-me por temas científicos, novas tecnologias.  Gostaria de, paralelamente, desenvolver alguma atividade rentável, pois a defasagem do salário já me afeta bastante. (39 anos, 13 de voo)
17- Não me sinto realizada, pois nunca me senti valorizada profissionalmente. No momento não faço nada além de voar e cuidar dos meus filhos, ainda pequenos. Não tenho sequer lazer ou vida social, até porque o cumprimento de uma escala tão apertada não me permite aproveitar a vida. Gostaria de fazer muitas outras coisas, voltar para a Faculdade, me dedicar ao estudo de idiomas que comecei e tive que interromper. Queria cuidar um pouco mais de mim.  (38 anos, 17 de voo)
18- Sim, sinto-me realizada. Também trabalho com vendas e gostaria de fazer outras coisas, mas não tenho tempo suficiente para isso.  (38 anos, 11 de voo)
19- Ainda não me sinto realizada. Não tenho outras atividades, pois mal tenho tempo para manter a união da família. A escala dificulta a continuidade em outras atividades. Mas eu gostaria muito de fazer outras coisas para crescer sempre. (38 anos, 9 de voo)
20- Já me senti mais realizada em outras profissões. Agora sinto que tenho mais status. Comecei a fazer atividades paralelas para compensar, como pintar profissionalmente e mergulho autônomo. Gostaria de fazer outra faculdade. (38 anos, 9 de voo)
21- Gosto do que faço, mas não me sinto realizada. Durante um período conciliei o voo com a Faculdade de Psicologia (um ano e meio). Depois, com o nascimento de minha filha, não foi mais possível continuar o curso, que exigia muita dedicação. Por outro lado, houve uma fase em que estudei Artes no Parque Lage (por uns seis meses); idiomas etc. Confesso que é um pouco frustrante não poder acompanhar cursos regulares, pois sou uma pessoa muito ativa e gostaria de acrescentar mais, nesse sentido, à minha vida.  (37 anos, 19 de voo)
22- Gosto do que faço e acho difícil me imaginar fazendo outra coisa, mas gostaria de ter um comércio, ou trabalhar como vitrinista. E ter uma vida mais regrada. Não diria que sou uma pessoa realizada.  (37 anos, 16 de voo)
23- Não me sinto realizada. Estou cursando uma segunda faculdade e gostaria de fazer outra coisa, além de ser comissária. (37 anos, 15 de voo)
24- Sinto-me satisfeita. Sempre tive várias atividades paralelas, mas atualmente tenho pouco tempo, pois estou com filho pequeno. Gostaria de fazer algum trabalho, juntando meu conhecimento em Psicologia com a experiência no voo, que pudesse trazer algum benefício para os tripulantes. Quando comecei a voar, ao perceber que o grupo de voo era bastante heterogêneo, pensei em fazer um trabalho para tentar traçar um perfil do tripulante, suas necessidades básicas, satisfações e insatisfações. Cheguei a começar um questionário, mas desisti, pois seria uma pesquisa longa demais para uma só pessoa.  (37 anos, 17 de voo)
25- Estou realizada e quero aposentar-me nessa profissão. Estudo chinês e me aperfeiçoo em outras línguas.  (37 anos, 16 de voo)
26- Não me sinto realizada intelectualmente. Sempre quis voltar a estudar. Quando entrei para a aviação pensava ficar uns três anos e então mudar de ramo. Mas, como nela o tempo voa junto, fui ficando e ficando. Com a instabilidade econômica do país, um rendimento regular seguro, todo mês, é melhor que assumir riscos. Atualmente, vendo a crise que atinge a empresa comecei a desenvolver uma atividade paralela. Gostaria de fazer outra coisa, desde que tivesse meios ($) para viajar nas férias com a família.  (37 anos, 10 de voo)
27- Não me sinto realizada. Trabalho um pouco na ACVAR para aprender e para melhorar as condições de trabalho para mim e para o grupo. Adoro o serviço de primeira classe e gostaria de desenvolver trabalhos nessa área. (36 anos, 15 de voo)
28- Sinto-me realizada. Hoje, além de voar estou no treinamento (CTC). Aproveito para saber mais sobre a profissão e o que posso fazer para que nosso voo seja ainda melhor.  Minhas atividades paralelas: sou mãe, esposa e dona de casa; faço teatro de bonecos com meu marido e temos uma produtora de eventos; faço marketing de rede e gostaria de fazer várias outras coisas. É claro que o tempo é curto e sou obrigada a me dividir.  Falta tempo para o computador (que só uso como máquina de escrever), para viagens familiares, para escrever e outras coisas mais. (35 anos, 16 de voo).
29- Não sou realizada. Sou mãe, sou esposa e sou dona de casa. Gostaria de ter mais tempo livre para estudar.  (35 anos, 15 de voo)
30- Sou realizada e não gostaria de mudar de profissão. Mas gostaria de administrar melhor meu tempo livre e voltar a pintar, pois sou formada em Belas Artes. E, se possível, continuar estudando. (35 anos, 9 de voo)
31- Gostaria muito de mudar de profissão. Faço Faculdade de Psicologia, estou em processo terapêutico há seis anos e acho que a época de mudança profissional chegou novamente. Desta vez, a intenção é optar de forma mais consciente. (35 anos, 9 de voo)
32- Sinto-me realizada pelo prazer que tenho em viajar, mas não profissionalmente. Não me sinto produtiva, sinto-me um pouco “máquina”. Gosto de pensar e realizar coisas diferentes.  Desenvolvia uma atividade paralela até há bem pouco tempo, justamente para suprir essa carência, mas com o nascimento do meu filho não consigo conciliar as duas profissões. Quando ele estiver um pouco maior, penso em voltar. (35 anos, oito de voo)
33- Sinto que já me realizei e agora estou procurando algo que me motive tanto quanto ser comissária me motivou. (34 anos, 15 de voo)
34- Gosto do que faço, mas não me sinto realizada. O salário é muito baixo para o tipo de vida que temos que levar. Faço cursos paralelos, pois comecei a ter a sensação de que estava “emburrecendo”. Gostaria de ter outra atividade, mas ainda não sei bem o quê. Talvez astrologia, curso que já faço há quatro anos e que se relaciona com a minha formação acadêmica (Psicologia).  (34 anos, 8 de voo)
35- Hoje em dia, se dissesse que estou realizada mentiria, apesar de que em contrapartida gosto muito do que faço. Já desenvolvi atividade paralela quando fiz curso de alemão, ginástica e dança. Hoje os voos andam tão frequentes que mal temos oito dias de folga no mês. Sim, gostaria imensamente de fazer outra coisa, mas ainda não dei nenhum passo para mudar. (34 anos, oito de voo)
36- Sim, sinto-me realizada. Pode não ser o sonho da minha vida, pois sempre quis ser médica, mas tento fazer da minha vida nestes 10 anos algo prazeroso e, até agora, estou conseguindo. Tenho atividades paralelas somente como hobby: trabalho com crianças deficientes e gosto de curtir a vida de fazenda no interior, onde temos uma propriedade.  Se eu pudesse escolher, penso que gostaria de trabalhar com Marketing.  (33 anos, 10 de voo)
37- Sim, sinto-me realizada. Porém, depois de voar em um B-767 e ser obrigada a trabalhar no B-737, é altamente desestimulante! Paralelamente, estudo japonês e gostaria de fazer algo mais. (33 anos, 7 de voo)
38- Não me sinto realizada. É como se faltasse alguma coisa. Preciso produzir mais. É para isso que estou fazendo teatro, que é o que realmente gostaria de fazer e montar uma casa de festas infantis, para poder me sustentar. (32 anos, 12 de voo)
39- Mais ou menos. Gostaria de realizar um trabalho mais intelectual e de conciliá-lo com a aviação, pelo menos durante algum tempo. Estou cursando História, na UERJ e estudo francês.  (31 anos, 9 de voo)
40- Não me sinto realizada profissionalmente porque acho o trabalho muito mecânico. Não somos respeitados pela empresa, o que nos desmotiva muito.  Tampouco é possível fazer um curso na íntegra, pois não adianta pedir folgas à escala. Estou muito desmotivada. Faço musculação, terapia e leio bastante. (31 anos, 8 de voo)
41- Não me sinto realizada. Gostaria de ter tempo para atividades artísticas, como piano e jazz. O número de folgas nas escalas do B-767 não permite. (31 anos, 8 de voo)
42- Não me sinto realizada. Com 10 anos de voo, não me sinto reconhecida pelo trabalho que faço e sei que tenho potencial para muito mais. Essa profissão tornou-se árida para mim. Gostaria de trabalhar com Psicologia. Estou cursando o sétimo período e pretendo trabalhar nessa área. (30 anos, 10 de voo)
43- Sim, estou realizada profissionalmente, mas paralelamente faço Faculdade de Direito e já fiz Letras. Adoro estudar, aprimorar meus conhecimentos. E para completar minha renda revendo produtos de beleza e comida congelada. Quanto a fazer outra coisa, só quando me aposentar, quando pretendo abrir uma escola para filhos de tripulantes, bem como dar-lhes assessoria extraclasse – transporte para cursos, médico, dentista etc. (30 anos, 10 de voo)
44- Não me sinto realizada profissionalmente, pois tenho ainda muito que fazer. Voltei a estudar, estou no quarto ano de Psicologia, faço aulas de consciência corporal, terapia Reichiana. Também participo de congressos, workshops ligados à área da saúde. (30 anos, 9 de voo)
45- É difícil sentir-me realizada quando o momento é de incerteza. Existe uma incógnita no ar. Não sabemos o que será da empresa no futuro e da aviação de um modo geral. No momento não desenvolvo nenhuma atividade, mas penso em dar continuidade ao curso universitário de Direito, visando ao ingresso no serviço público. (30 anos, 8 de voo)
46- Não estou realizada. Sou psicóloga clínica. Nas folgas, faço um curso de pós-graduação em Psicologia Junguiana. Atendo na clínica de um amigo, como terapeuta. Estudo inglês e também pratico exercícios físicos. Quando posso fazer essas atividades paralelas e conciliar com o voo, sinto-me realizada. Mas quando a escala aperta demais e só faço voar, deixo meus cursos de lado, fico desanimada. (30 anos, 8 de voo)
47- Financeiramente, não estou realizada. Gostaria que nos valorizassem em todos os sentidos. Estudo música (flauta), espanhol, inglês e bordo ponto cruz. Não sei se eu gostaria de fazer outra coisa. (30 anos, 7 de voo)
48- Sinto-me muito realizada. Realizo atividades paralelas, sem fins lucrativos. Não penso em mudar de profissão, somente em me desenvolver mais como comissária de voo. (30 anos, 7 de voo)
49- Não, não me sinto realizada, pois gostaria de fazer alguns cursos, estudar mais. A única coisa que consigo fazer atualmente é ginástica, pois não há hora, nem dia marcado para fazê-la. Hoje em dia, caso conseguisse alguma coisa fora da aviação que me agradasse, sairia sem sombra de dúvida. (29 anos, 8 de voo)
50- Não me sinto realizada. Depois que tive minha filha (agora com 11 meses) sinto-me um pouco fora deste trabalho. Só continuei a trabalhar porque meu marido foi mandado embora (contenção de despesas) e eu consegui ficar nos voos bate-volta. Acho que nossa remuneração está muito baixa para o tipo de vida que levamos. Penso em fazer alguma coisa paralela, que aumente meus ganhos.  (29 anos, 5 de voo)
51- Sim, sinto-me realizada. Comecei a voar pelo salário bom e pelo contato com as pessoas, que para mim significam a obra mais linda e complexa do universo. Não me decepcionei com o voo porque não entrei com sonhos e tinha esta função como transitória: um trampolim para algo onde eu me sentisse mais valorizada profissionalmente. E assim foi acontecendo. Retornei para a faculdade de Psicologia e optei por refazer os dois primeiros períodos por serem muito diferentes da antiga universidade. Formei-me em julho de 1993, após cinco anos de estudos conciliados com o voo. Foi um desafio, uma glória e um sonho, quando, ao término da faculdade, eu era uma das primeiras alunas da turma! Fui a estagiária que mais fez horas de atendimento na Clínica e hoje continuo clinicando e voando! Porém, essa vida dupla não vai durar muito tempo. Apesar de todos os transtornos que o voo nos traz, salientando o stress físico que é o que mais me incomoda, aprendi a amar esses aviõezinhos, essa gente bonita entrando e saindo, essa mistura de raças e costumes confinados num só ambiente e, principalmente, o convívio com pessoas (tripulantes) de cabeça tão feita, tão abertos, tão cidadãos do mundo. Não sei se me acostumarei a viver apenas em um lugar, ao lado de pessoas cuja visão de mundo é limitada e que estão restritas às pequenas oportunidades que suas vidas lhe impõem (guardando devidamente as inúmeras exceções e desprovida de preconceitos, é claro!). Assim sendo, estou bem próxima de uma decisão que não é muito fácil. Afinal, mudar implica uma grande dose de coragem, quando o país onde vivemos não nos oferece nenhuma segurança sócio-político-econômica. E, em função disso, a Varig se transforma num alicerce, numa base e vira até sinônimo de tranquilidade! (28 anos, 8 de voo)
52- Gosto do que faço, mas se pudesse ter outra profissão com mais tempo para mim, mudaria de emprego. Não consigo ter outra atividade paralela. (28 anos, 8 de voo)
53- Antes, eu me sentia realizada, mas, atualmente, do modo como a empresa e os passageiros vêm nos tratando, não estou mais. Faço aulas de inglês e dança. Sim, gostaria de fazer outra coisa. (28 anos, 5 de voo)
54- Sinto-me realizada. Afinal, sou uma privilegiada nessa sociedade. Consegui trabalhar naquilo que quis, que sonhei. Desenvolvo atividades físicas e trabalhos manuais. Pretendo ainda terminar minha faculdade ou fazer outro curso. Estou um pouco cansada da aviação. Se tivesse oportunidade financeira, eu abriria um negócio. Gostaria, hoje, de estar mais tempo em terra. (27 anos, 8 de voo)
55- Sinto-me realizada. Quando estou de uniforme acho que fico até mais bonita. Sempre brinco dizendo que toda mulher deveria ser comissária por um dia. Acho que faz bem para o ego feminino. Não tenho outra atividade. Gostaria de um dia trabalhar na confeitaria de meus pais, para ampliar o negócio da família. (27 anos, 6 de voo)
56- Sinto-me realizada. Mas gostaria de fazer algo paralelo, pois sinto necessidade de ser útil, além de conseguir uma ajuda para aumentar a renda. (27 anos, 3 de voo)
57- Adoro ser comissária, mas não está sendo possível conciliar com a minha vida pessoal, do jeito que estou voando, com poucas folgas. Ultimamente, não estou nem feliz com a profissão nem com o salário. Já desenvolvi atividades paralelas, mas como estou voando muito, parei. Sinto-me horrível!  (26 anos, 4 de voo)
58- Sentia-me realizada no primeiro ano. Depois algo começou a faltar em minha vida. Senti que passava muito tempo ociosa e improdutiva. Tentei alguns negócios e cursos, mas nada deu certo até agora. Pretendo abrir uma loja. (24 anos, 2 de voo)

Na Rio-Sul, 70% das Comissárias diziam estar satisfeitas com a profissão, mas não justificaram. A maioria tinha pouco tempo de voo.
1- Sinto-me realizada na profissão que conquistei, contudo gostaria de mudar de empresa. Talvez uma empresa maior, com perspectivas de voos internacionais.  Como atividades paralelas, eu estudo alemão, frequento uma academia de ginástica e esporadicamente faço algum curso. Gostaria de me aposentar na aviação. (31 anos, 6 de voo)
2- Sim, mas tenho mais a realizar. Gostaria de, juntamente com a aviação, fazer outras coisas. (31 anos, 4 de voo)
3- Sinto-me realizada, mas gostaria de desenvolver alguma coisa que ampliasse meu crescimento pessoal. (26 anos, 2 de voo)
4- Ainda é muito cedo para eu falar de realização. (26 anos, 1 mês de voo)
5- Por enquanto, procuro conciliar com a outra profissão que desenvolvo - faço mestrado em medicina veterinária preventiva (saúde pública). Gostaria de ter mais tempo para continuar “clinicando” e estudar idiomas.  (25 anos, 4 meses de voo)
6- Sinto-me realizada e, por enquanto, não desenvolvo nenhuma atividade paralela. Mas logo darei início a um curso de idiomas voltado para a aviação e aula de dança, pois ainda estou em fase de mudança de moradia. (25 anos, 4 meses de voo)
7- Sim, mas gostaria de fazer alguma outra coisa para complementar o salário.  (21 anos, 4 meses de voo)
8- Sim, estou realizada. Estudo e aprofundo meus conhecimentos. Não gostaria de fazer outro trabalho. (21 anos, 1 mês de voo)
9- Estou realizada! Não poderia ter feito outra opção. Amo o que faço! (19 anos, 5 meses de voo)

Na Transbrasil, 50% das Comissárias se diziam satisfeitas e realizadas. Das que justificaram, registro as respostas:
1- Não! Se a escala de voo respeitasse a regulamentação, seria bem possível fazer cursos, se aprimorar. (42 anos, 16 de voo)
2- Não! Acho que já fiz e dei o melhor de mim. Hoje, sei que não vou voar por muito mais tempo. (36 anos, 9 de voo)
3- Gosto do que faço e quero continuar, mas não sei se estou realizada. Faço cursos paralelos, em áreas de terapia alternativa. Quero fazer outra coisa, além de voar. (35 anos, 13 de voo)
4- Não me sinto realizada e não desenvolvo outra atividade a não ser natação e ginástica. Gostaria de estar em outra profissão, em que eu fosse a responsável pelos meus horários. (32 anos, 10 de voo)
5- Sinto-me realizada profissionalmente, mas não consigo continuar meu curso de línguas ou fazer a Faculdade de Direito que tanto gostaria, pois minha escala de voo não permite!  (31 anos, 6 de voo)
6- Sim, no momento me sinto realizada. Talvez no futuro eu faça outra coisa. (26 anos, 1 ano de voo)
7- Sim, sinto-me realizada! Não desenvolvo nenhuma outra atividade, mas gostaria muito de desenvolver. (24 anos, 3 de voo)
8- Sim, sinto-me realizada. Fora o voo, curso uma faculdade e gostaria de ter mais tempo para estudar. (21 anos, 1 ano de voo)

Na Vasp, 50% das comissárias que responderam ao questionário, diziam estar realizadas na profissão. Registramos as respostas que vieram acompanhadas de justificativas:
1- Sim, estou realizada. Há dois anos eu desenvolvia uma atividade paralela: vendia produtos da Tupperware. Porém a escala de voo foi apertando e não foi possível continuar. Quando me aposentar vou, com certeza, ter outra atividade, fazer cursos etc. (43 anos, 17 de voo)
2- Não me sinto realizada. Passaram-se 10 anos e não tive tempo para estudar. Portanto, hoje eu não tenho uma opção de outra carreira se, porventura, por algum motivo, eu não puder mais voar. (31 anos, 10 de voo)
3- Não me sinto realizada. Não tenho atividade paralela e gostaria de sair da aviação, para fazer outra coisa. (31 anos, 9 de voo)
5- Não me sinto realizada. Adoraria fazer outra coisa, mas ainda não sei o quê. (24 anos, 5 anos de voo)
6- Não me sinto realizada porque falta muita coisa para realizar. Gostaria muito de ter concluído meu curso universitário.  (23 anos, 9 meses de voo)
7- Às vezes, não me sinto realizada. Nosso trabalho é muito mecânico. Sinto falta de estudar e de ser mais criativa. (20 anos, 1 mês de voo)

Continua...

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