terça-feira, 24 de junho de 2014

Olga

Olga*

Meu pai nasceu na Tchecoslováquia, foi criado na Alemanha e veio para o Brasil com 30 anos. Minha mãe nasceu na Alemanha, foi criada na França e veio para o Brasil com 16 anos. Ela era professora de francês na Aliança Francesa, mas em casa a gente falava o idioma alemão. Eles se conheceram em Rolândia, onde morava a família de minha mãe. Nasci em Rolândia, norte do Paraná. Tenho três irmãs e um irmão. Sou a segunda filha na família.
Meu pai foi convidado a se retirar da Alemanha por não ser alemão e estar participando de passeatas contra Hitler. Ele saiu fugido e veio pela Caritas. Sempre teve uma cabeça maravilhosa. É engenheiro agrônomo e não teve problema de emprego porque tinha muita terra para medir no Paraná. Agora é falecido. Minha mãe é aposentada e dá aulas particulares de francês em casa. Minhas irmãs estão casadas, com filhos, e esperando que eu deixe essa vida louca que elas não entendem.
Meus pais sempre foram pessoas maravilhosas. Meu pai foi quem mais me influenciou. Era liberal, anárquico, inteligente, tinha ideias fantásticas. Quando tive o meu primeiro relacionamento, liguei para ele e disse que estava para casar, mas que o cidadão era divorciado, uma coisa assim. Ele disse: “Que ótimo! Pode deixar que eu faço a cabeça da sua mãe.” Eu devia ter uns 20 e poucos anos. Minha família é católica praticante.
Não fui criada para casar e ter filhos. Quando uma amiga da minha mãe perguntava se eu já tinha namorado ela respondia: “Eu não estou criando minhas filhas para o casamento. Estou criando primeiro para que tenham uma profissão, depois elas resolvem se querem casar ou não”.
A minha irmã mais velha casou cedo, mas continuou estudando, contra a vontade do marido que achava um absurdo ela ir para a Faculdade estando grávida. Ela sempre fez questão de trabalhar. Outra irmã é mãe solteira. A única que não trabalha fora é a que mora na Alemanha. Eu nunca tive este instinto materno e o fato de não ter tido filhos nunca me afetou. Estou casada, meu marido se aposentou há pouco tempo. Ele ainda sente ciúmes do meu trabalho, mas já não briga porque sabe que não adianta. O fato de estarmos vivendo com tantas pessoas não quer dizer nada, em relação ao meu casamento.
Aviação e família
Minha família mudou-se para Curitiba e eu morei lá até entrar para a aviação. Meus familiares continuam morando em Curitiba. Só uma irmã que se casou com um alemão e mora em Frankfurt. A minha vida em Curitiba era muito certinha e muito chatinha. Eu estudava meteorologia e queria ser piloto, tirar o brevê, mas havia aquela história de que mulher não tinha nenhuma oportunidade de trabalho nesse setor. Nesse interim apareceu o anúncio para candidatas a aeromoças e resolvi me inscrever.
Eu tinha um tio que trabalhava na Varig e me interessava pela aviação, mas não tinha ideia do trabalho de aeromoça. Tinha uma amiga, cujo pai tinha sido piloto na II Guerra Mundial, que estava fazendo o curso de piloto. Fui com ela até o Aeroclube e me interessei pelo voo.
Quando entrei para a aviação, o perfil da aeromoça ainda não era muito definido. Havia requisitos: idade mínima, peso etc. Já tinha me apresentado aos 17 anos, depois de ver o anúncio no jornal, mas eles disseram que eu era muito nova e que tinha que esperar pelo menos um ano. Quando estava com 18 anos já tinha outras ideias, nem estava mais pensando no voo. Então eles me chamaram porque eu falava alemão e isso era importante para a empresa. A minha redação em português era péssima e mesmo assim me aceitaram.
Entrei com 18 anos quando a idade mínima era 21. No meu passaporte constava que eu viajava sob a responsabilidade da empresa. Entrei com a condição de estudar inglês e estudei. Por isso não entendo as reivindicações de colegas que querem ser promovidos sem dominar esse idioma. Acho que o principal numa profissão dessas é ter fluência em outras línguas além do português.
Um dia desses queriam que eu assinasse um abaixo-assinado pedindo à empresa para tirar a exigência do conhecimento do inglês. Eu me recusei. Muito ao contrário, acho que a empresa ainda deve acrescentar a exigência de outros idiomas para quem quer voar nas linhas internacionais.
Fiz os testes de seleção no Paraná. Meus pais não se opuseram. Meu pai achou que eu não ia ficar muito tempo, mas estou aqui até hoje. Ele disse que eu mudava de ideia com facilidade e que essa ideia de entrar para o voo também seria passageira.
Durante muitos anos eu visitava a minha família quase todos os meses. Achava que eles precisavam de mim para serem felizes. Eles ligavam para mim: “Olha, o seu pai está deprimido, seria bom que você viesse.” Havia essa cobrança por parte da família. Isso com 15 e até 20 anos de voo. Eu vivia muito em função da minha família. Toda hora tinha que estar em Curitiba e me sentia na obrigação de fazer isso. O relacionamento era muito estreito com a família e também com os amigos e meu tempo disponível era dedicado a eles.
Depois comecei a fazer análise. Meu analista me chamou a atenção para o desgaste que vinha tendo e que eu não estava cuidando da minha própria vida. Vivia levando presentes para meus familiares e coisas assim. Ele me fez ver o quanto eu estava me sacrificando em função deles. Depois, deixei de ir, comecei a me entender e a me cuidar. Agora vou em média duas vezes por ano. Segundo o analista, a família escolhe um Cristo e você aceita fazer esse papel.
Curso de Comissários, primeiros voos, perfil profissional
Quando entrei para a aviação eu não sabia nada sobre a profissão. Naquela época o tempo de descanso durante o voo não existia. A gente não era contratada para “descansar” no avião, diziam, mesmo que o voo durasse mais de 15 horas! Durante o curso, eles não sabiam como conduzir e informar os comissários sobre muitas coisas que faziam parte da profissão. Falavam muito da sequência do serviço de bordo...
Não gostei nada dos meus primeiros voos. O primeiro foi uma conexão de voo internacional. Colocaram-me uma bandeja na mão e me mandaram passar o suco. A instrutora estava no voo, mas acompanhava um bebê desacompanhado. Estava lá, envolvida com mamadeira e fraldas. E eu fiquei ali sem saber o que fazer. Comecei a trabalhar muito nova, sem saber direito o que estava fazendo, exatamente como uma garota que se torna mãe aos 15 anos. Fui crescendo junto com a profissão. As normas foram aparecendo com o tempo.
Hoje já não sei mais qual é o perfil do profissional. Houve uma época em que esse perfil ficou mais definido. Acho que o perfil ideal, se é que existe, está desaparecendo. Quando entrei para o voo, por exemplo, não podia casar, não podia ter filhos, não podia fazer quase nada. Eram todas umas santinhas dando a volta ao mundo. Coisa estranha... Então o mulherio casava escondido, tinha filho escondido. Eles não podiam aparecer!
Cantadas
As cantadas existiam e algumas investidas eram fortes. Cito o exemplo de uma colega nossa que chegou a ganhar de um tio um revólver para se proteger nos pernoites. Naquela época ela era uma das poucas comissárias na tripulação e andava sempre com a arma na mala. Um dia teve que fazer uso. O colega, tripulante técnico, bateu na porta do quarto dela e quando ela abriu a porta ele colocou o pé e com a força conseguiu entrar no quarto. Ela foi se aproximando da mala e conseguiu pegar a arma. Apontou a arma para ele e mandou-o sair imediatamente. O cidadão saiu apavorado!
Os homens achavam que as comissárias também estavam lá para isso mesmo, mas com o tempo foram vendo que não era bem assim. Essas colegas, as pioneiras, enfrentaram uma barra bem mais pesada. No meu caso, sendo a mais nova, sempre despertei o maternalismo e o paternalismo por parte dos colegas. Eles se preocupavam comigo em todos os sentidos. Lembro bem disso.
Recebi muitos cartões de passageiros, mas cantada insistente foi apenas um telefonema que recebi no quarto do hotel. Estou procurando saber onde você se hospeda há três horas! Você é um amor! - disse ele. Quem está falando? - perguntei. O seu passageiro mais simpático! - ele respondeu. Não consigo me lembrar. - eu disse. Aí ele me convidou para jantar, mas eu inventei que um colega da tripulação estava fazendo aniversário e todos iam sair juntos para comemorar. Depois até me arrependi. Fiquei lembrando que ele era realmente muito simpático, uma pessoa bem suave. Mas a gente nunca sabe...
Tive um envolvimento superficial com um comandante, mas para mim era tudo muito esquisito a maneira dele ser e pensar, por causa do uniforme e das faixas. Ele próprio fez a minha cabeça para não me envolver com ninguém mais da aviação. Conscientemente, conversava comigo e dizia que eu não devia confiar e desfiava os motivos ou “qualidades” dos aviadores. Hoje, eu podia ser esposa de comandante, quem sabe, mas com essas advertências que recebi essa possibilidade desde cedo ficou descartada.
Profissão X Vida doméstica
As outras mulheres que não são da aviação não fazem ideia do que é administrar uma casa na nossa profissão. Não sabem o que é iniciar uma tarefa, parar, voar e voltar para terminar. Isso porque a mulher da aviação não deixa de fazer todas as tarefas da casa. O homem, quando fica em casa, não lava louça. Se o casal tem filhos, ele ainda consegue tomar conta ou supervisionar as coisas na ausência da mulher.
Outro dia, uma colega me contou que ao chegar de viagem encontrou um aviso escrito na porta do banheiro: “Atenção, não tem papel higiênico!”. Ou seja, quem se deu ao trabalho de escrever o aviso não se deu ao trabalho de colocar um novo rolo de papel higiênico! Nem o banheiro eles sabem abastecer. E assim a mulher é sobrecarregada nas mínimas coisas. Lá em casa, a louça tem aparecido lavada, mas as panelas ficam lá, cheias de água e detergente, me esperando. Se não fosse por causa das baratas acho que não existiria nem a preocupação com o detergente. A loucinha leve está sendo lavada por causa dos escândalos que faço quando chego de viagem. É para evitar o escândalo, que a loucinha está sendo lavada, não para me ajudar nas tarefas da casa. Ele acha que eu viajo porque quero e que devo cuidar das tarefas domésticas porque sou mulher. Mas acho que duas pessoas vivendo juntas deveriam dividir igualmente as tarefas da casa. A mulher ainda é muito sobrecarregada. Ela é quem faz, resolve, decide, dentro de casa e fora de casa também.
Realidade X ilusão
Muitas comissárias acham que por se hospedarem em hotéis quatro estrelas, a vida que levam é um luxo. Elas não conseguem colocar o pé no chão e vivem com angústia essa dupla realidade. Falta preparo psicológico e muitas acabam entrando de licença psiquiátrica. A empresa não as prepara para as contradições da vida profissional. Desde que entrei na aviação, sempre cobrei o acompanhamento de psicólogos para muitos problemas vividos por colegas. Eu sinto que existe por parte da própria empresa o medo de conhecer o real perfil do profissional do voo. Ela vai deixando como está para ver como fica. Sentimos falta de uma chefia mais consistente, consciente e mais decidida.
Preparação para as viagens
Nunca gostei de preparar as malas, nem de sair de casa para viajar. Em termos emocionais essa parte é muito difícil para mim, mas depois que saio de casa tudo fica mais fácil. Houve uma época em que não queria mais voar, pensava até em sair da aviação e fui fazer terapia analítica para saber o que estava acontecendo comigo. Interromper o que estava fazendo em casa e sair para voar era muito difícil. Ainda mais porque vivemos viajando e quando acho que estou recuperando o meu equilíbrio, já está na hora de sair outra vez.
Eu tinha uns 10 ou 12 anos de voo quando busquei ajuda psicológica porque eu queria voar, mas o fato de sair de casa e ir para o aeroporto estava muito difícil. Muitas vezes eu queria que o táxi quebrasse no caminho para ter uma desculpa, ligar para a Escala de Voo e dizer que não poderia fazer aquele voo. Queria que o elevador ficasse trancado, assim eu ficaria presa no elevador e pediria para alguém ligar para a empresa e dizer que eu não teria tempo de chegar ao aeroporto e fazer o voo. Na minha cabeça sempre havia a expectativa de faltar e ter uma justificativa para a empresa. E sentia uma grande alegria quando o voo atrasava ou era cancelado. Se tivesse que sair horas depois ou até no dia seguinte eu saía mais animada porque assim tinha conseguido ganhar mais algumas horas antes de entrar num avião.
Na psicoterapia fui me conscientizando de que essa passagem era difícil, mas que eu gostava do meu trabalho, pois quando estava bem eu gostava do que fazia. Era uma questão de equilibrar o tempo em casa e o tempo no trabalho. Esse problema estava relacionado com a Escala de Voo. Durante o voo e até nos pernoites eu me sentia bem.
Ao me preparar para viajar, não dou atenção para mais nada. Deito por algumas horas e mesmo que não durma sinto necessidade de descansar e de me isolar. Fico quase neurótica porque sei que vou passar toda a noite em claro, trabalhando. Depois levanto, tomo banho, seco o cabelo, visto o uniforme e assim faço o ritual de passagem, em silêncio e no isolamento.
Retorno dos voos
Quando chego, depois de um voo, estou sempre muito cansada e irritada. A gente passa horas e horas dentro de um avião se controlando e quando chega está a ponto de explodir. Lá em casa eles já sabem, no dia em que eu chego estão proibidos de me falar qualquer coisa negativa que tenha acontecido. Qualquer problema que houver, que dependa de mim, fica para o dia seguinte.
Dependendo do voo, a minha irritação dura algumas horas ou mesmo dias. Sinto-me péssima, preciso descansar, dormir, deixar a irritação passar, até me sentir melhor, até me sentir gente outra vez. Mas, ao mesmo tempo, sinto-me culpada, pois já fiquei alguns dias fora do convívio familiar, alguns dias sem dar prosseguimento à minha própria vida. É sempre um dilema, que só passa com o descanso. Há colegas que chegam de voo e logo se envolvem com as questões do cotidiano. Eu não consigo! Se não descansar, fico quase maluca!
Consumismo, atividade paralela
Em termos de alimentação eu sou consumista, vou ao supermercado no exterior e compro muita coisa para uso familiar, porque a qualidade é superior e o preço é igual ou inferior. Mas em relação a outras coisas não sou.
Nunca fiz muamba. Como não tenho filhos, não tenho muitos gastos com a família e nunca fiquei tentada em comprar e vender para ganhar mais dinheiro. Eu não tenho essa veia comercial. Até admiro a correria de muitos colegas que fazem isso e ainda enfrentam a alfândega. Mas fico irritada quando tenho que abrir minhas malas na alfândega porque eles acabam pegando as minhas coisas que são para uso pessoal.
Estudo de idiomas
Dediquei meu tempo ao estudo de idiomas. Comecei estudando inglês, pois alemão eu já falava. Depois estudei francês. E os idiomas precisam ser estudados constantemente porque na aviação a gente os usa muito pouco, dentro do avião inclusive. Nós falamos muito pouco com os passageiros. E os tripulantes que nos pernoites saem em grupo acabam falando só entre eles, em português. Sinto que, até em alemão, quando falo com a minha mãe, as palavras começam a faltar por causa do pouco uso. É preciso dois ou três dias de convívio para ter a fluência novamente. Também estudei italiano, sempre com aulas particulares porque na nossa profissão é difícil conciliar os horários nos cursos regulares. Estudei espanhol no tempo em que fiquei baseada em Madri.
Relacionamento com os colegas nos pernoites
O meu relacionamento com os colegas sempre foi superficialmente bom. Nunca entendi essa coisa de transformar o grupo que está voando comigo em uma família. Essas reclamações que os colegas fazem de que nos pernoites ninguém está saindo junto, eu não entendo. As pessoas que trabalham em outras atividades não saem do trabalho e vão se reunir com os colegas depois. Cada um vai cuidar da sua vida. Sempre encarei a minha profissão como um trabalho e não como uma distração.
No início, até tive um maior entrosamento, quando era mais jovem e com poucos anos de aviação. Depois, a gente passa para os voos internacionais e muita coisa muda. Os voos são muito cansativos. Nunca entendi como muitos colegas têm tanta energia para sair e fazer tantas coisas nos pernoites. Sair correndo, fazer isso e aquilo, ir jantar no dia da chegada... Eu vou dormir, buscar o meu repouso. Sempre achei que depois de uma noite inteira de trabalho, o que mais preciso é de descanso. Sempre dormi muito e bem. Se acordo no meio da noite, leio até o sono voltar novamente. Nunca tive problema de fuso horário, nem no Brasil, nem no exterior.
Nos pernoites, passo o meu tempo com muita leitura. Não faço questão de ir a grandes restaurantes porque acho que essas orgias gastronômicas não estão com nada e me cansam muito. Então, para o pernoite, eu levo a minha leitura. A não ser quando vou para Frankfurt, onde visito meus familiares. Também gosto de sair, andar um pouco, visitar museus e boas exposições, quando tenho tempo. Mas programações em shoppings e restaurantes não me interessam.
Questões de saúde
Quando entrei na aviação, tinha problema de sinusite. No primeiro exame de saúde no CEMAL fui reprovada. Fiz tratamento e fiquei curada. No geral, procuro cuidar da minha saúde. Tomo vitaminas, faço tratamento com homeopatia quando preciso. Quando surge um sintoma, procuro um médico, para ver o que é e me tratar.
Sempre tive problema para usar maquiagem, mesmo quando tentei usar produtos antialérgicos. Começo a ficar com problema de inchaço. E também não posso usar lentes de contato, tenho alergia. 
Nosso ambiente de trabalho é adverso e nós precisamos nos cuidar. Minha maior preocupação, em termos de saúde, é não perturbar os colegas, se por acaso ficar doente num pernoite. Não gosto de incomodar nem de ficar dependente. Por isso me cuido bastante. Ficar fora de casa e ainda doente não deve ser fácil.
Escala de Voo
Quando pego a Escala de Voo, nem olho. Dobro o papel e guardo na bolsa até chegar em casa. Aí dou para o meu marido dar uma olhada. Ele olha, examina, pensa e diz: “Olha, não está muito ruim”. Eu pergunto: “Tem um fim de semana de folga, pelo menos?”. Então ele diz quais são os voos e tudo o mais que vou ter que fazer naquele mês. A pior coisa é pegar a Escala de voo!
Apesar disso, estou satisfeita com a profissão que escolhi e nunca pensei em fazer outra coisa na vida. Meu analista disse que a vida na minha casa era tão certinha que a única coisa que eu fazia era procurar fugir do certinho. Cada viagem é uma fuga! Mesmo que me irrite sair de casa, eu não deixo de sair.
Aposentadoria
Estou com 49 anos e gostaria de sair do voo aos 50. Mas pago minha aposentadoria suplementar pelo AERUS e tenho que esperar até os 55 anos, pois não aceito sair sem o meu salário integral depois de tantos anos de trabalho na aviação! Acho que isso está errado. Com 30 anos de voo eu já deveria estar me aposentando. Estou esperando que surja a oportunidade de fazer algum acordo com a empresa. Eu não gostaria de ficar na aviação até os 55 anos, mas com 70% do salário eu não saio. Sou independente, financeiramente, desde os 18 anos e não consigo aceitar me aposentar e ganhar menos.
O que vou fazer depois?
Nem sei! Vai sobrar muito tempo... Dizem que quando a gente tem muito tempo sobrando não consegue se organizar... Quero fazer pintura, voltar às aulas de dança e só. Viver o dia a dia, ler muito, fazer comidinhas, todas essas coisas que agora a gente faz sempre correndo e até com certo nervosismo. Quero curtir esse dia a dia e está na hora de fazer isso.

*Olga (pseudônimo) estava com 49 anos e 30 de voo quando concedeu esta entrevista, em 1997, em um pernoite na cidade de Madri (Espanha).

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